Todo dia ele ia até o ponto onde a linha imaginária dividia o mundo: à esquerda, terras de Espanha; à direita, de Portugal. Foi ali, onde jaz o marco do Tratado de Tordesilhas, ponto turístico de Laguna (SC) desde 1975, que o guri que antes só brincara de guia (corria já aos 12 anos a vender chaveiros aos turistas) viu nascer seu ganha-pão.

Dali, Poliba partia com os turistas a perguntar-lhe sobre datas que tinha na ponta da língua. E o fazia, entre cigarros, sob chuva de piadas. Quando viam, já estavam na Casa de Anita Garibaldi, cidadã ilustre, que no porto conheceu Giuseppe. Ela foi com ele fazer a Revolução Farroupilha. "Não havia homem suficiente na cidade", brincava.

Muitas vezes, ia fantasiado de farol, ou de tainha, quando não vinha ao hotel travestido de Sarita, sua espanhola de língua ferina. Poliba divertia. Não à toa, as excursões pediam por ele. Enciclopédico, "sabia a história de cada uma das 600 casas tombadas", diz o secretário de Turismo, Iberê Jaques. "Tinha um dom que não se aprende em cursos (e ele fez muitos). Vem de berço."

O berço era Laguna, terra que não o elegeu vereador, mas lhe deu outros prazeres. Todo ano, o carnaval da pracinha elegia sua musa. Muitos anos, ela foi Poliba. Um dia, internado por causa da AIDS, fugiu do hospital a tempo de se vestir e concorrer.

Morreu dia 6, de enfisema pulmonar, aos 53 anos. Entrou na história. O secretário de Turismo o quer como nome de rua. Assim, como fazem hoje com Anita, os guias haverão de apontar para a placa e dizer: eis Poliba, um grande lagunense.

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