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    Rio de Janeiro

    Arquidiocese do Rio planeja tour de madrugada ao Cristo por até R$ 1.000

    CHICO FELITTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

    18/09/2016 02h00

    Paul Robinson/Reuters
    Visitantes observam a estátua do Cristo Redentor no parque Nacional da Tijuca, no Rio
    Visitantes observam a estátua do Cristo Redentor no parque Nacional da Tijuca, no Rio

    O sol nem nasceu, mas ele já está de pé, com os braços abertos. Impávido, ainda que sozinho. Mas em breve o Cristo Redentor deve ganhar companhia na madrugada carioca: turistas dispostos a pagar um preço elevado, que poderá alcançar até R$ 1.000.

    A Arquidiocese do Rio, que administra o santuário do qual faz parte a estátua de 38 metros, planeja disponibilizar até o final deste ano um serviço de visita ao cartão-postal de madrugada. "Vamos oferecer uma experiência transcendental junto à natureza, junto ao Cristo e tudo o que está ao redor dele", afirma João Mariano, responsável pelo planejamento estratégico do Vicariato para a Comunicação Social.

    O intuito da Igreja é fazer um passeio evangelizador –há, no mesmo espaço que a estátua, uma capela dedicada a Nossa Senhora Aparecida, onde acontecem batizados e celebrações eventuais. As visitas ao local deverão ser intermediadas por uma agência de turismo.

    A Arquidiocese refuta o uso do termo "visita VIP" e afirma não saber exatamente quanto se cobrará para as visitas matutinas, em grupos de até 30 integrantes. Pessoas que trabalham no projeto, entretanto, afirmaram à Folha que se aventa cobrar até R$ 1.000 por pessoa. "Ainda não temos um valor definido", afirma Mariano.

    LINHO EM VEZ DE FÉ

    O preço estimado está na faixa de quanto o hotel Copacabana Palace cobrava de seus hóspedes por um passeio similar, que ofereceu de 2013 a meados de 2015. Grupos de até 15 pessoas saíam às 5h do hotel mais famoso da cidade e iam tomar café da manhã aos pés da estátua, ainda fechada para o público. Há fotos de visitantes que subiram até a mão do Cristo nessas ocasiões, o que não é permitido para o turista habitual.

    Em troca, o Copacabana Palace fazia uma doação, que, segundo a Igreja, não era pré-estabelecida. Mas a atração, que saiu até no jornal "The New York Times", acabou ganhando um foco que não agradou à Arquidiocese.

    A Igreja avalia que muito se falava dos pães caseiros e das frutas exóticas brasileiras servidos sobre jogos americanos de linho durante o passeio, e pouco da bênção dada a todos os visitantes ou aos ensinamentos bíblicos que eram ministrados. Como o aspecto de luxo acabou ganhando mais destaque que o da religião, achou-se por bem pôr um fim à parceria.

    "Fizemos uma experiência de teste junto com o Copacabana. Aconteceu algumas vezes", afirma o representante da Igreja. "Mas as dificuldades impossibilitaram a continuidade dessa parceria." O Copacabana Palace diz que seu passeio VIP não foi cancelado, estando apenas em pausa atualmente.

    "O Corcovado Experience (peregrinação ao Cristo) está suspenso temporariamente, mas outros projetos entre o hotel e a Arquidiocese estão em andamento", afirma o hotel, em nota à reportagem.

    Procurado, o ICMbio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), que administra o parque Nacional da Tijuca, onde fica o Cristo, afirmou ainda desconhecer os planos de uma nova modalidade de visita.

    A entidade disse em nota: "Nunca houve visitas turísticas VIP autorizadas pelo ICMBio, gestor do Parque Nacional da Tijuca e do Corcovado. A mitra arquiepiscopal solicitou autorizações para visitas de parceiros e peregrinações religiosas. A visitação turística está restrita aos horários abertos ao público em geral."

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