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    Mancha de poluição no rio Tietê tem recuo tímido após fim da crise hídrica

    EDUARDO GERAQUE
    DE SÃO PAULO

    22/09/2016 02h00

    A mancha de poluição do rio Tietê recuou um pouco depois do fim da crise hídrica, mas segue muito maior do que entre 2013 e 2014 –quando foi atingida a melhor marca do programa de despoluição.

    O Tietê estava "morto" por 71 km, entre as cidades de Guarulhos e Pirapora do Bom Jesus, antes da grave estiagem que atingiu São Paulo. A falta de água, que dificulta a diluição do esgoto que chega ao rio, fez mais do que dobrar a área contaminada.

    Com isso, entre 2014 e 2015, 154,7 km do rio estavam sem oxigênio para a sobrevivência das espécies, área que se estendia de Mogi das Cruzes (Grande SP) a Cabreúva.

    Agora, segundo monitoramento da ONG SOS Mata Atlântica que será divulgado nesta quinta (22), a mancha de poluição recuou 11,5% –tem 137 km de extensão, de Itaquaquecetuba (Grande SP) a Cabreúva, no interior.

    "Podemos ter saído da situação extrema da crise hídrica em termos de quantidade de água disponível, mas não em relação à qualidade", diz Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica.

    Segundo a ambientalista, só saneamento básico não resolve, sozinho, o problema de poluição do rio Tietê. "É preciso uma gestão integrada, que, além do saneamento, envolva restauração florestal e retirada de moradias irregulares, que voltou a crescer", afirma Malu.

    Para ela, a legislação que determina o nível de poluição dos rios também precisa mudar e ficar mais exigente. A volta das chuvas, explica ela, encheu os reservatórios, mas também carregou muita poluição para os rios. "Ao lavar o solo, a chuva leva muita fuligem para a água. É por isso que o rio fica preto."

    Como as obras de saneamento feitas pelo Estado passaram a ter um ritmo menor em meio à crise hídrica, que realocou investimentos para aumentar a oferta de água, isso também impacta o resultado, segundo Malu. "Temos que acelerar o dobro para recuperar o que foi perdido."

    POLUIÇÃO CRÔNICA

    Em 2010, quando a segunda fase de despoluição do rio Tietê começou, a mancha tinha 243 km. Geograficamente, ela começava em Suzano e terminava em Porto Feliz. Em 1993, quando a despoluição teve início, o Tietê não tinha vida por extensos 530 km, de Mogi das Cruzes até o reservatório de Barra Bonita.

    Para gerar o relatório com a mancha de poluição, a equipe da SOS Mata Atlântica investiga a situação em 302 pontos de coleta, distribuídos em 50 municípios. Mais 94 corpos d'água são avaliados.

    As coletas são realizadas por meio de kits fornecidos aos voluntários do projeto Observando o Tietê. Em cada um dos pontos estudados é medido o IQA (Indicadores de Qualidade da Água), metodologia internacional que avalia se a água é boa para abastecimento.

    De acordo com os especialistas da SOS Mata Atlântica, se os investimentos na recuperação do rio não tiverem um ritmo maior, a bacia hidrográfica do Tietê vai precisa de pelo menos 20 anos para ter uma boa condição ambiental, o que permitiria usar o Tietê no abastecimento.

    Segundo a Sabesp, ligada à gestão Geraldo Alckmin (PSDB), a poluição do rio também depende da ação das prefeituras das áreas afetadas.

    A empresa promete entregar a primeira fase da ampliação da Estação de Tratamento de Esgotos de Barueri em fevereiro. Em maio de 2017, quando a última fase da obra terminar, 7,5 milhões de pessoas serão atendidas.

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