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    Foz do Iguaçu tenta mudar fama de 'cidade de sacoleiros'

    MARCELO TOLEDO
    ENVIADO ESPECIAL A CIUDAD DEL ESTE

    26/09/2016 12h24

    Fabio Braga/Folhapress
    CIUDAD DEL ESTE, SP, PARAGUAI, 22-09-2016: Brasileiras carregam sacolas de compras feitas no Paraguai. Com aumento do dolar e arocho na fiscalizacao da Receita Federal, movimentacao dos tradicionais sacoleiros vem caindo ano a ano. (Foto: Fabio Braga/Folhapress, COTIDIANO)***ESPECIAL***.
    Brasileiras carregam sacolas de compras feitas no Paraguai

    Conhecida como a "capital" dos sacoleiros no país, Foz do Iguaçu (PR) tem tentado, nos últimos anos, reduzir essa peregrinação de compradores a partir de incentivos a outras modalidades de turismo, como o gastronômico e o ecológico.

    Para isso, tem apostado desde 2007, quando vivia repleta de sacoleiros, num programa de gestão integrada do turismo para desenvolver a cidade e reduzir a dependência de compristas –também chamados de muambeiros.

    O plano inclui incentivar o turismo, com visitas às cataratas do Iguaçu, à hidrelétrica de Itaipu e à gastronomia dos três países da Tríplice Fronteira –Brasil, Argentina e Paraguai–, além de atrair congressos e eventos.

    "A alta do dólar nos últimos anos deixou os produtos muito caros para quem os recebia em casa. Muitos que antes compravam resolveram viajar para cá e visitar a cidade", disse Carlos Silva, presidente do Sindhotéis (sindicato de hotéis, restaurantes e bares) de Foz.

    Segundo ele, a queda gradativa na presença dos sacoleiros abateu o turismo e também contribuiu para a cidade apostar em outros atrativos.

    "Isso [queda de sacoleiros] começou a abrir espaço para outro tipo de turista."

    Com 27.500 leitos em hotéis, pousadas e albergues na cidade, o sindicato prevê que, até 2018, o número chegue a 30 mil, mantendo o crescimento médio de 5% ao ano, e que precisam ser ocupados. A taxa de ocupação no primeiro semestre foi inferior a 50%, devido à crise. A partir de 55% o empresário começa a ter lucro, de acordo com Silva.

    "Precisamos que as pessoas venham, que esses leitos sejam usados pelo público. O volume de compristas não é atrativo para quem está nessa atividade [hotéis], até por causa da fiscalização nas estradas, do risco. Não temos recebido esse tipo de público", disse.

    Apesar de tentar mudar o foco, o "turismo de compras", com destaque para free shop em Puerto Iguazu, na Argentina, está longe de ter sido abandonado. Empresas buscam hóspedes nos hotéis para city tour e visitas ao centro de compras por preços que variam de R$ 60 a R$ 120.

    Mas os sinais de mudança já são claros. Na Vila Portes, bairro que abriga hotéis e pousadas historicamente destinados a atender sacoleiros que ficam no máximo oito horas nos estabelecimentos, três locais mudaram o foco de ação nos últimos anos devido à queda no fluxo de compristas.

    "Precisamos mudar para tentar um hóspede diferente, já que os sacoleiros começaram a rarear. Não tinha como não investir", disse Altemir Peixoto, gerente de um hotel que foi reformado.

    Há menos de três anos, sacoleiros pagavam R$ 40 pela estadia no estabelecimento, valor que hoje é de R$ 80.

    SEM FLUXO

    A Folha procurou cinco empresas de turismo do interior de São Paulo e Minas Gerais que ofereciam até duas vezes por semana viagens para sacoleiros a Foz do Iguaçu.

    Nenhuma faz a rota até a cidade paranaense com a mesma frequência que a registrada há dez anos. Três que ofereciam viagem a partir de Passos (MG) saíram do negócio.

    O empresário José Marcos Borges assumiu uma dessas rotas, mas não conseguiu viajar na última semana, devido a problemas de documentação. "Nas viagens que tenho feito, embarco de 20 a 25 passageiros apenas, num ônibus de 40 lugares", disse.

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