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    Massacre do Carandiru

    TJ reforça que 'bandido bom é bandido morto', diz sobrevivente do Carandiru

    EDUARDO GERAQUE
    DE SÃO PAULO

    29/09/2016 02h00

    Niels Andreas/Folhapress
    SÃO PAULO, SP, BRASIL, 02-10-1992: Massacre do Carandiru: corredor alagado de sangue no pavilhão da Casa de Detenção de São Paulo, após a intervenção da Polícia Militar do Estado de São Paulo para conter uma rebelião, em São Paulo (SP). A rebelião teve início com uma briga de presos no Pavilhão 9 da Casa de Detenção. A intervenção da Polícia Militar, liderada pelo coronel Ubiratan Guimarães, tinha como justificativa acalmar a rebelião no local. Sobreviventes afirmam que o número de mortos é superior ao divulgado e que os policiais atiraram em detentos que já haviam se rendido ou que estavam se escondendo em suas celas. Nenhum dos 68 policiais envolvidos no massacre foi morto. A promotoria do julgamento do coronel Ubiratan classificou a intervenção como sendo "desastrosa e mal-preparada". (Foto: Niels Andreas/Folhapress)
    Corredor alagado de sangue no pavilhão 9 do Carandiru, após a intervenção da Polícia Militar

    Ao ouvir as palavras "legítima defesa", o pastor evangélico Sidney Francisco Sales deu um sobressalto do outro lado da linha.

    "Como assim? Aquilo foi um extermínio, como em Auschwitz [o campo de concentração nazista onde judeus foram exterminados] ou no Camboja [nos anos 1970, quando houve massacres de centenas de pessoas em um mesmo dia]", diz um dos sobreviventes do episódio que ficou conhecido como massacre do Carandiru.

    Na terça (27), o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu anular a condenação de 74 policiais envolvidos no ataque.

    Em 1992, invasão da polícia para coibir uma rebelião deixou 111 presos mortos e corredores e escadas do presídio inundados de sangue. "Todos foram executados, não havia ninguém armado. Todos acabaram condenados novamente, porque estavam ali cumprindo suas penas e acabaram mortos", diz Sales.

    Massacre do Carandiru
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    No momento da invasão da polícia, ele estava no quarto andar do pavilhão 9. Ele fazia parte da equipe da faxina e da distribuição de comida. Sobre a decisão do TJ, Sales foi avisado nesta quarta (28) cedo, pela própria reportagem. "Não estava sabendo não. Mas ela ajuda a reforçar a tese de que bandido bom é bandido morto", diz o pastor.

    Hoje, entre palestras sobre sua vida, Sales coordena algumas unidades de recuperação de viciados em drogas. "Temos 200 pessoas em Vargem Grande Paulista, Campo Limpo e Jundiaí. E outros 50 já com carteira assinada", diz.

    O pastor, que entrou no Carandiru após ser condenado por roubo de cargas aos 19 anos, em 1989, ficou paraplégico depois de ser baleado por um desafeto quando saiu da Casa de Detenção. Chegou a ser preso outra vez, viciou-se em drogas e, então, nos anos 1990, depois de ser novamente solto, passou cinco anos numa clínica de reabilitação.

    No dia do massacre, ele teve que ajudar a carregar os corpos dos mortos e quase foi executado por PMs antes de eles saírem do pavilhão.

    Sales não condena exatamente os próprios policiais, que estavam ali cumprindo ordens, segundo ele. Mas sim o coronel Ubiratan Guimarães e o diretor do presídio na época, Ismael Pedrosa. "Eles nunca foram condenados pela justiça dos homens. Foram eles os responsáveis pelas mortes. Mas acabaram condenados pela justiça divina", diz Sales. Os dois morreram assassinados.

    "Faltou habilidade para contornar a rebelião", diz.

    Editoria de Arte/Folhapress
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