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    Transição Paulistana

    Empresários temem efeito cascata de tarifa de ônibus congelada por Doria

    DIMMI AMORA
    DE BRASÍLIA

    08/10/2016 02h00

    Zanone Fraissat/Folhapress
    Motoristas e cobradores de ônibus param as atividades no terminal Dom Pedro, no centro de São Paulo; categoria reivindica reajuste de 5%
    Ônibus estacionados no terminal Parque Dom Pedro 2º, na região central de São Paulo

    A decisão do prefeito eleito João Doria (PSDB) de congelar a passagem de ônibus em R$ 3,80 no ano que vem levou pânico a empresários do setor, que já falam em efeito cascata pelo país, principalmente na Grande SP, com sucateamento da frota e greves.

    Em reunião nesta semana em Brasília na sede da NTU (associação nacional das viações), os empresários começaram a se articular contra a medida, que deve ter impacto nacional –os reajustes em São Paulo são usados como referência por outras cidades na região metropolitana.

    "Se isso se espalhar, em janeiro entramos em colapso", afirmou à Folha Otávio Cunha, presidente da NTU.

    O SP Urbanuss (sindicato patronal de SP) tem evitado se indispor com Doria publicamente por enquanto, mas integra a entidade nacional.

    A partir das informações das empresas paulistanas, Cunha diz haver atrasos de R$ 100 milhões em repasses municipais e que a primeira consequência do anúncio de Doria será a interrupção da encomenda de ônibus novos.

    "Essas declarações [de Doria] estão revelando um despreparo porque, se ele fizer isso, vai faltar dinheiro e vai comprometer a atividade."

    Como informou a Folha nesta sexta (7), técnicos municipais calculam que a tarifa sem reajuste deverá provocar um custo adicional ao caixa da prefeitura de R$ 1 bilhão, valor suficiente para construir 30 km de corredores exclusivos para coletivos.

    Sem aumento da passagem, uma fatia maior dos gastos do sistema de transporte tende a ser bancada pelo dinheiro dos cofres municipais –subsídio que é repassado às viações de ônibus para cobrir a diferença entre aquilo que os passageiros pagam e os custos reais do serviço.

    Se em 2016 esse montante já vai passar de R$ 2 bilhões, em 2017, sem atualização da tarifa de ônibus, ele poderá ultrapassar R$ 3 bilhões.

    Nesta sexta, Doria declarou estimar em R$ 450 milhões os custos adicionais com congelamento da tarifa, mas não detalhou seu cálculo. "A decisão está tomada, não vai mudar", afirmou ele, após reunião de transição com Fernando Haddad (PT).

    O presidente da NTU rebateu as contas do tucano. "Essa conta dele não fecha."

    Na capital paulista, a gestão Haddad chegou a contratar auditoria que apontou falhas nas prestações de contas das viações e a possibilidade de cortar pela metade a margem de lucro. Isso depende, porém, de fazer novos contratos, com licitação.

    GREVE

    O líder das empresas de ônibus diz que as piores consequências –não só na capital paulista– devem ocorrer durante as negociações salariais, com risco de greves.

    Para Cunha, a posição de Doria colocou numa saia justa candidatos a prefeito em cidades em que ainda haverá segundo turno, que podem ter de se comprometer em também congelar os preços.

    Em São Paulo, parte dos custos do serviços é bancada pelo dinheiro da prefeitura, mas em outras cidades os subsídios não são comuns. Neste caso, sem reajuste da tarifa, a tendência é de quebra generalizada de empresas, na avaliação da NTU.

    A associação diz ainda que metade das empresas do país está com débitos tributários. O sistema, de acordo com Cunha, trabalha com um deficit médio de 19% ao ano.

    Colaboraram THAIS BILENKY e ARTUR RODRIGUES

    Custo do transporte de ônibus

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