A advogada Janaína Lima, 32, conta que quando tinha três anos ouviu o seguinte conselho da copeira da creche onde ficava: "Janaína, desvende o segredo das letras. Minha filha, seja letrada que o mundo estará com você". Naquele momento, Janaína diz que se decidiu: viraria uma letrada e seria advogada no futuro. Vereadora, mesmo, não imaginava.

Primeiro, claro, aprendeu a ler –sozinha, aos cinco anos. A primeira palavra que leu foi "aluga-se". "No Capão Redondo, há muitas placas de 'aluga-se'. Todo mundo quer alugar a casa, o barraco. Comecei a soletrar e aprendi", explica.

Agora, Janaína tornou-se vereadora pela primeira vez pelo Partido Novo –teve 19.425 votos. Ela nasceu e cresceu no Capão Redondo, bairro pobre na zona sul. Sua melhor votação foi no Jardim Paulista, região de classe média alta na zona oeste.

Sua família ainda está na periferia. O pai, Espedito, é motorista de ônibus há 32 anos. Sua mãe atua como líder comunitária na região.

Janaína gosta de destacar sua ascensão: estudou em um colégio particular com auxílio de uma bolsa. Depois, entrou em direito na PUC-SP, mas não conseguiu pagar o curso e desistiu por uns tempos. Acabou se formando na Faculdade Rio Branco, também com bolsa.

Em 2014, ela foi a um protesto contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) no largo da Batata, na zona oeste. Ouviu e se encantou com um discurso de Rogério Chequer, líder do movimento social Vem Pra Rua.

Editoria de Arte/Folhapress

Acabou sendo alçada a porta-voz do grupo. "São movimentos como esse que vão levar uma nova consciência, inclusive para a minha comunidade. As pessoas precisam ver que a vida delas não está nas mãos do Estado, mas em suas próprias mãos", afirma a vereadora.

Antes de se candidatar, Janaína atuou na subsecretaria de Juventude no governo Geraldo Alckmin (PSDB).

Quando decidiu disputar uma vaga na Câmara, teve de deixar o Vem Pra Rua, que se diz "suprapartidário". Na eleição, foi assessorada pela agência de comunicação M2, que também presta serviços para o movimento de Rogério Chequer.

Para bancar a campanha, a vereadora eleita recebeu quase R$ 300 mil em doações -R$ 70 mil deles da família Setúbal, acionista do Itaú. "Não os conheço pessoalmente. Eles doaram para vários candidatos", diz.

CORTES E FEMINISMO

Para o mandato de quatro anos, ela afirma que uma de suas prioridades será reduzir a verba de gabinete a que tem direito na Câmara.

"Vou cortar 50% da minha verba. Mostrar que é possível fazer mais com menos, acabando com privilégios e mordomias", diz ela, que promete não usar o carro oficial que tem disponível para deslocamentos pela cidade.

Suas duas maiores bandeiras, explica, serão a educação e o empreendedorismo. "Gerar mais negócios e mais empregos", anuncia.

Janaína gostou da eleição de João Doria (PSDB) para prefeito. "Ele trouxe ideias modernas". Mas diz que será independente. "Se ele propuser coisas que estejam alinhadas com o que penso, serei a favor. Se não, não".

Do atual prefeito Fernando Haddad (PT), não gostou. "Ele decepcionou", diz. Ela critica o que considera serem "pegadinhas" dos radares e as ciclovias. "Elas não dão nenhum tipo de segurança para o ciclista", afirma.

Ao contrário de Sâmia Bomfim (PSOL), sua futura colega na Câmara, Janaína não se considera feminista. "Sou mulher, sou mãe, mas não sou feminista, não. Quero trabalhar para que a vida da mulher seja melhor na cidade", diz.

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Raio-X: Janaína Lima

Profissão: Advogada

Carreira: Formada em Direito pelas Faculdades Integradas Rio Branco, atuou na subsecretaria de Juventude do governo Alckmin (PSDB); líder do movimento Vem Pra Rua; concorreu a uma cadeira na ONU Mulheres

Votos recebidos: 19.425 (51º posição)

COMPOSIÇÃO DA CÂMARA PARA 2017 - Número de vereadores eleitos por partido

COMPOSIÇÃO ATUAL DA CÂMARA - Número de vereadores eleitos por partido

ELEITOS PARA A CÂMARA EM 2012 - Número de vereadores eleitos por partido