Há duas semanas, ele subiu ao palco com um microfone na mão. Pigarreou. E logo arrancou o riso da plateia, ao começar a contar sua história –ou ao menos a parte engraçada dela. Apesar do rosto cansado, o humorista seguiu no improviso: ironizou a política do Amapá, contou os tropeços das viagens, riu de si mesmo e dos outros.
Sebastian Razael nasceu na pobreza, filho de um pedreiro e de uma empregada doméstica em Belém do Pará. "Sua veia humorística se alimentava justamente disso", diz o amigo, Disney Silva. "Brasileiro, aprendeu a rir da própria desgraça."
Em Macapá, formou-se em artes visuais e virou professor, mas enveredou pelo teatro. Começou na parte técnica e logo ganhou os palcos –foi Gilberto, cujo falo e escracho davam corpo a "Seu pinto: uma filosofia de vida", do grupo Língua de Trapo, e ainda o primo da travesti Veruska na peça "Bar Caboclo".
Até os rins começarem a falhar. Entrou para a fila do transplante. Chegou a se mudar para Fortaleza, onde a espera seria menor. Lá conheceu a stand-up comedy e passou a se apresentar nos bares. Quando o dinheiro faltou, voltou ao Amapá. Juntou amigos e lançou o projeto 'Stand-up Club'. Macapá ganhava a primeira casa do tipo. Ali, apresentou-se pela última vez.
O corpo já não dava conta da diálise e a cirurgia necessária não era feita no Estado. Fora, custaria R$ 7 mil. Para arrecadar a soma, os humoristas de Macapá planejaram um show beneficente, no dia 15. Morreu antes, dia 4, aos 42, de falência renal. Deixa esposa, cinco filhos e, diz o amigo, "um Amapá menos alegre".
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