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    Rio de Janeiro

    Aprimorar UPP é desafio de novo secretário de Segurança do Rio

    FERNANDA MENA
    DE SÃO PAULO
    SÉRGIO RANGEL
    DO RIO

    12/10/2016 02h00 - Atualizado às 10h28

    Reprodução/Twitter SegurancaRJ
    Subsecretário Roberto Sá recebe a Medalha Flávio Duarte por dedicação ao processo de pacificação
    Subsecretário Roberto Sá recebe a Medalha Flávio Duarte por dedicação ao processo de pacificação

    José Mariano Beltrame deixa a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, após quase dez anos, como protagonista de avanços importantes na diminuição dos homicídios no Estado e no ensaio de uma mudança cultural das polícias, por meio das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) –que fizeram cair a letalidade policial, mas que enfrentam uma grave crise.

    É assim que o avaliam seus aliados e críticos entre especialistas em segurança pública ouvidos pela Folha.

    Para Ignácio Cano, coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio (UERJ), Beltrame foi um secretário "honesto e bem-intencionado, mas ambivalente".

    De início, em 2007, protagonizou grandes operações policiais em favelas, elevando as mortes provocadas pela polícia no Rio a seu recorde (1.330 mortes no ano). Em seguida, apostou numa polícia de proximidade, nas UPPs, o que derrubou os índices de letalidade policial. Para ele, o principal legado da gestão Beltrame foi consolidar a autonomia técnica da área da segurança.

    "Antes, coronéis e delegados eram nomeados por deputados. Ele mudou isso. O risco agora é retrocedermos à velha politicagem", avalia.

    Antonio Cruz - 16.set.2015/Agência Brasil
    O secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, é recebido pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (Antonio Cruz/Agência Brasil) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    O ex-secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame

    Coordenadora do CESeC (Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes), a socióloga Silvia Ramos aponta como virtude da era Beltrame "encerrar a política de confrontos e investir na proximidade em favor da vida".

    Para ela, ao priorizar os crimes contra a vida, cujos "alvos são pobres, negros e moradores das periferias, Beltrame mobilizou recursos para os menos favorecidos".

    Segundo a pesquisadora, o secretário acreditou, no entanto, "que mudaria a polícia mudando apenas parte dela". "Enquanto contratava novos policiais, treinava e mandava para as comunidades, o batalhão continuava sucateado e com os mesmos esquemas de corrupção", disse.

    Ela avalia que o maior desafio do Rio agora é suportar a pressão para se acabar com o modelo de UPP. "Quem entrar na secretaria não pode retroceder na política de proximidade. Isso tem que ser tornar um patrimônio. Espero que o novo secretário mande um recado forte sobre isso", disse.

    Para Leandro Piquet Carneiro, do Instituto de Relações Internacionais da USP e do Centro de Liderança Pública, os maiores legados de Beltrame foram a queda nos homicídios no Rio (51% de 2007 a 2015) e a retomada dos territórios dominados pelo crime organizado.

    Para ele, as críticas ao modelo das UPPs se devem menos à formulação desta política do que à "incapacidade estrutural e operacional da PM do Rio". "A presença da polícia nestas áreas deve ser uma meta permanente da política do Estado."

    GESTÃO BELTRAME - Secretário comandava pasta de segurança do Rio desde 2007

    José Marcelo Zacchi, fundador e ex-dirigente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e ex-chefe de gabinete da Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, avalia que a gestão Beltrame perdeu fôlego ao longo do tempo, e começou a declinar em 2010, quando projetos de reforma e aperfeiçoamento das polícias nas áreas de UPPs foram tocados com timidez.

    "O processo virtuoso não conseguiu se sobrepor à instituição", diz. "Terminamos o ciclo de uma forma preocupante. Temos que renovar esforços e retomar o que não foi feito. É essencial e vital para o Rio não retroceder a um cenário de partida", acrescentou Zacchi, coordenador-geral da Casa Fluminense.

    Taxas sob gestão Beltrame

    BALANÇO DA GESTÃO -

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    MOMENTOS-CHAVE

    Jan.2007
    Assume o cargo de secretário de Segurança

    Jun.2007
    Operação no Complexo do Alemão mata 19 supostos traficantes; Estado registra recorde de mortos em confronto

    Dez.2008
    Polícia ocupa o morro Dona Marta, na zona sul, onde seria criada meses depois a 1ª UPP (Unidade de Polícia Pacificadora)

    Nov.2010
    Após uma série de ataques do tráfico, polícia ocupa o Complexo do Alemão com apoio do Exército

    Jul.2013
    Em uma das maiores crises enfrentadas por Beltrame, o pedreiro Amarildo de Souza desaparece após ser detido por policiais da UPP da Rocinha

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