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    Trabalho em 'Hospital de Livros' rende redução de pena a detentos no Paraná

    SEBASTIÃO NATALIO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PONTA GROSSA (PR)

    12/10/2016 12h31

    Claudemir Rodrigues está há três anos na Penitenciária Estadual de Ponta Grossa, no Paraná, cumprindo pena por assalto. Nesta semana ele entrou no universo dos livros, mais precisamente aprendendo a consertar obras literárias que lhe caem às mãos.

    Junto a outros nove detentos ele trabalha no Hospital de Livros, um projeto-piloto criado em junho deste ano que funciona dentro da unidade, mas que já é sondado para implantação em outros presídios paranaenses.

    Desde junho, mais de 800 obras foram recuperadas pelos presos e devolvidas aos leitores do presídio e também aos da cidade.

    Ao trabalhar na capa de um livro, Rodrigues diz que antes não dava importância para a leitura. "Vejo que a leitura nos dá a oportunidade de conquistarmos novos espaços. Ganhei uma oportunidade. Vou valorizar."

    A parceria envolve a ONG Pegaí - Leitura Grátis. As edições a serem recuperadas são do acervo do presídio, que tem 2.000 obras, e mais 70 mil do Pegaí, que estão em circulação por vários pontos da cidade. São doações que ficam à disposição da comunidade, que pode pegá-los nos pontos de distribuição, ler e devolver.

    DE DEPÓSITO A OFICINA

    No pequeno espaço onde antes era um depósito, além dos milhares de livros, estão uma prensa, guilhotina e ferramentas utilizadas pelos presos para cortar e colar as capas das obras.

    Eles recebem treinamento com o restaurador Américo Nunes, que já desenvolve essa função no Bando da Leitura, um projeto de contação de história desenvolvido por sua esposa, Lucélia Clarindo.

    No espaço, os livros têm as capas velhas retiradas e passam pelo processo de "cura". As lombadas são refeitas, e, caso a capa não possa ser reaproveitada, os próprios detentos criam desenhos com base na leitura que fazem.

    Já os de capa dura, que podem servir como "armas" em um motim, ganham capas alternativas, de cartolina.

    William Eduardo Starke é o desenhista das capas dos livros. Na visita da Folha, ele se dedicava a desenhos para um cordel sobre a história do Pegaí e do projeto.

    Preso há três anos por tráfico de drogas, Starke é o espelho do projeto. É leitor assíduo do programa e gosta de livros de história e psicologia. "Estou muito feliz de fazer parte. Tenho aqui uma nova oportunidade de trabalho, diferente, e aprendi a respeitar os livros", diz.

    Ele quer passar o exemplo para a filha Emily, de seis anos. "Quero que os livros que nós restauramos aqui chegue às mãos das nossas crianças e façam delas pessoas melhores".

    Quando deixar a prisão, Carlos Renato de Jesus quer levar o projeto para São Paulo, seu Estado. Fã de Agatha Christie, planeja cursar filosofia. "Se eu tiver ajuda, acredito que possa implantar o projeto lá. Este projeto nos ajuda a sermos livres".

    O hospital de livros nasceu na esteira do programa de remição de pena pela leitura. Segundo o diretor-assistente da unidade, Maurício Ferracini dos Santos, o programa reduz em quatro dias a pena para quem fizer a leitura de uma obra, e em 20 dias para quem fizer um resumo e obtiver aprovação acima de sete pontos.

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