Entre o mundo fantasioso da publicidade e a realidade mágica da floresta havia a sede pelo desconhecido, que o fez deixar o cargo em uma grande agência de São Paulo para ir à Amazônia, de carro, família a bordo, em 1974.
Foram dias dividindo estradas lamacentas com carretas até o Acre, onde pegaria um barco rumo a Manaus. Era o destino final, mas nem de longe seria a maior ou última aventura. Stevenson queria mesmo era encontrar o Eldorado.
Como acabou tragado por uma das buscas mais lendárias da humanidade é história digna de livro. Chileno, filho de um alemão e uma americana, sempre fora aventureiro -adolescente, escalou os Andes. Estudou artes, virou publicitário, se casou. E foi viver no Brasil: queria desbravá-lo. Foi diretor de arte de renome. Até que o desejo de ser artista o ganhou.
Suas telas realistas passaram a retratar uma Amazônia onírica, de índios curandeiros com cocares coloridos a donzelas banhando-se em igarapés e amazonas com seios à mostra. Foram vendidas a banqueiros e figuraram em mostras dos EUA ao Japão.
A inspiração, colhia na mata. "Um dia, foi recebido por flechadas", diz o filho, Victor. Como naturalista fora de sua época, fez estudos autodidatas e lançou um livro, no qual localizava Eldorado nos campos de buriti de Roraima e sugeria uma estrada pré-inca que teria ligado Colômbia, Brasil e Chile.
Quando quis retraçar sua genealogia, descobriu-se parente de Vermeer, ícone da arte holandesa. Quando um dos três filhos bateu à sua porta, dia 4, não respondeu. Aos 82, morreu de causas naturais.
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