Para João Campagna, os almoços de domingo eram sagrados. Nada o agradava mais do que ver a família em torno da mesa. Seus pratos favoritos não podiam faltar. O frango com polenta e a macarronada traziam lembranças da infância. "Alguém no mundo pode comer uma comida igual à minha, mas melhor, nunca", dizia.

João era o caçula de cinco filhos de imigrantes italianos. Mimado pelas irmãs mais velhas, estava acostumado a ter todas as suas vontades realizadas. Mas, por trás do gênio forte, havia um homem afetivo e brincalhão, contam os que o conheceram melhor.

Foi sua teimosia que conquistou a mulher, Muna. Filha de imigrantes sírios, a bela jovem era noiva de outro quando o conheceu. Apaixonado, insistiu em conquistá-la. Casaram-se aos 23 anos.

Foi uma época difícil. Com um filho pequeno e outro por vir, João se viu sem emprego e sem dinheiro para criá-los. Receoso quanto ao futuro, ouvia incentivos da mãe: "Um filho é sempre uma bênção".

A salvação veio quando conseguiu um emprego como contador de uma imobiliária. Décadas de trabalho depois, conseguiu comprar a empresa. Com a prosperidade, outros dois filhos vieram para tornar as comemorações de domingo ainda maiores.

Morreu no dia 5, aos 82 anos, após dois meses de luta contra a leucemia. Deixa a mulher, três filhos e cinco netos. João tinha como hábito ler os obituários desta Folha. Os filhos dizem que, se estivesse lendo esta coluna, faria seu clássico comentário diário: "Ih, tá morrendo gente que nunca morreu".

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