• Cotidiano

    Sunday, 05-May-2024 17:08:24 -03

    Após fuga em massa de detentos, clima é de insegurança em Franco da Rocha

    PAULO GOMES
    DE SÃO PAULO

    18/10/2016 13h08 - Atualizado às 20h28

    A SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) ainda busca nesta terça-feira (18) por quatro detentos que fugiram do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico 1 (HCTP1) no final da tarde de segunda-feira (17). Ao todo, 55 presos fugiram da unidade de Franco da Rocha, na Grande São Paulo.

    O clima no entorno do HCTP1 é de relativa tensão após a fuga em massa dos presos. A todo momento, carros da SAP, da Polícia Militar e de ambulâncias passam em alta velocidade na estrada em frente ao local –há sete unidades prisionais no município de 147 mil habitantes. Os presos recapturados estão sendo transferidos para outras unidades da região, uma vez que parte das instalações foi consumida pelo fogo no motim.

    "Todo mundo que mora aqui já se acostumou", diz Armando Barbosa de Almeida, 42, enquanto espera o horário para deixar na creche o filho André, 1. "A saidinha [saída temporária de detentos] é o que mata, estraga a vila. São dias de muita droga, muita bagunça", afirma. Ele não teme pela segurança do filho pequeno. "Não tenho como deixar ele em casa, e aqui (na creche) é seguro", diz, sobre o prédio que dá os fundos para o HCTP1.

    Dono de uma mecânica e borracharia em frente ao local, José Antônio de Sousa, 53, afirma que sentiu um "medinho" de ser pego como refém na noite desta segunda, mas não fechou a oficina. "Achei que teria que fechar por causa da fumaceira [os presos incendiaram parte dos prédios da unidade], mas não. E não atrapalhou o fluxo de clientes", diz.

    Já Ivan Figueiredo, 42, dono de uma farmácia nos arredores, fechou o seu estabelecimento. "Estava em casa e de lá vi o fogo. Me ligaram daqui e vi os presos subindo pela colina. Resolvemos fechar antes das 17h, eu costumo fechar às 20h", diz Figueiredo. Nesta terça-feira (18), segundo ele, o clima já está voltando ao normal.

    Ao lado, um supermercado funciona como de costume. "Medo a gente tem porque sabe que tem fugitivo por aí, mas o movimento está normal", diz a fiscal Juliana Silva Lima.

    CORRERIA

    Na Escola Estadual Azevedo Soares, o número de alunos foi menor nesta terça. "Os pais ficaram com medo, vieram poucos. Teve uma correria aí na rua mais cedo, então liberamos eles às 11h hoje", diz a professora Janete Jopetipe, 43. Um homem em um restaurante em frente à escola diz que a correria foi uma perseguição, que terminou com o fugitivo baleado. A SAP nega que algum fugitivo tenha sido atingido. Segundo a secretaria, os presos recapturados não possuem ferimentos graves, apenas leves escoriações.

    Uma funcionária da unidade prisional que conversou com a reportagem em condição de anonimato disse que o diretor do HTCP1, Luiz Henrique Negrão, tem uma gestão de medidas impopulares tanto com os internos como com os funcionários.

    "No final de 2015 ele quis cortar a entrega de comida pelas famílias aos presos. Eles ameaçaram matar todos os 'Jacks' [estupradores] e os doentes mentais, e o diretor voltou atrás", afirma.

    O motim de segunda foi motivado por uma proibição de Negrão, que quis impedir os presos de fumarem dentro do pavilhão. "Eles ficam das 16h às 8h30 lá dentro, não têm o que fazer, não têm uma terapia ocupacional", diz. Segundo a funcionária, os internos pediram para conversar sobre a medida proibitiva com o diretor e ele indicou que voltaria para conversar, mas não o fez.

    Ela afirma ainda que os funcionários torcem para que o episódio da fuga leve à saída de Negrão do cargo. "Mas não deve acontecer, a corregedoria passa a mão na cabeça."

    Fontes ouvidas pela Folha, porém, afirmam que a proibição do cigarro foi um pretexto utilizado por alguns presos que seriam transferidos e não queriam mudar de unidade.

    A funcionária diz que os quatro agentes penitenciários feitos reféns durante o motim não foram feridos por terem um bom relacionamento com os presos. "O trabalho aqui é humanizado, ninguém bate neles."

    Diretor do Sifupesp (Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional de SP), Fábio César Ferreira tentou entrar nesta terça no HTCP1 para conversar com os funcionários, mas foi impedido. "Queremos averiguar as condições de trabalho. As informações que eu tenho são de que a cadeia está destruída", diz Ferreira.

    Em nota, a Secretaria da Administração Penitenciária negou que a direção da unidade tenha restrito algum direito dos pacientes e que tenha proibido o uso de qualquer substância lícita no interior da unidade

    FUGA EM MASSA

    No dia 29 de setembro, Jardinópolis (a 329 km de SP, também na região norte do Estado), 470 detentos fugiram do Centro de Progressão Penitenciária local, após um motim em protesto à superlotação do local. Designado a abrigar 1.080 presos em regime semiaberto, o CPP tinha 1.861.

    Um dia depois, houve uma nova rebelião no centro de ressocialização de Mococa (a 274 km de São Paulo), no norte do Estado. Segundo o relato oficial, após um dos presos ser flagrado com drogas, internos do centro atearam fogo em colchões e impediram a saída de dois funcionários de uma ala da unidade, tornando-os reféns.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024