João Batista cantava no coral da igreja quando o chamaram. Havia fumaça na oficina. Correu, do alto dos 87 anos, para ver o fogo consumir, impetuosamente, 19 violinos e oito violoncelos. Queimavam sem respeito aos 65 anos que levava como luthier. Perdia tudo, pensou –sem atinar à consideração que detinha no meio da música. Dias depois, uma orquestra tocava para levantar fundos. O mestre se reergueria com ajuda de Vivaldi e Beethoven.
A música foi escolha teimosa e tardia. O menino de São Joaquim do Monte (PE) cresceu quebrando pedras. Mal sabia assinar o nome quando se registrou, aos 17 anos. Na capital, tentou o Exército. Não vingou. Até passar em frente à igreja e ouvir um som danado de bonito. Assuntou. Era um violino. Refez o caminho todo dia para ouvi-lo. Até ver uma rabeca na vitrine e decidir: "Vou fazer igual".
Fez, diz a filha Hosana, "embaixo da mangueira, com uma faca de cozinha". Com a labuta (fazia engradados para a Brahma), comprou as ferramentas. Apresentado ao regente da Orquestra Sinfônica do Recife, virou restaurador. Nunca mais parou. Fez até um violino de pau-brasil, seu orgulho e aprendeu a tocá-lo sozinho para entender o som que dele emanava.
Há anos, passou a ensinar o metiê a jovens carentes. Deixava, assim, um legado, ao morrer dia 15, de câncer, aos 89 anos "" além de histórias. Afinal, passou por suas mãos até o violão de João Gilberto. Prestes a cancelar o show em Recife por uma corda rompida, juraram que o senhor autodidata resolveria. No palco, conta a filha, João disse: "Obrigado, Batista."
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