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    Espera de três horas por balsa vira rotina em viagem ao litoral norte

    PAULO GOMES
    ENVIADO ESPECIAL A ILHABELA

    22/10/2016 02h00

    As estudantes de arquitetura Jaynefer Guilhen, 21, Sophia Luz, 21, e Vanessa Mansur, 20, queriam aproveitar a folga da faculdade onde estudam, em Campinas, no interior paulista, para passear em Ilhabela, no litoral norte. O dia livre foi parcialmente perdido na espera pela balsa –que chegava a três horas nesta sexta-feira (21), mesmo fora do horário de pico.

    "Não imaginava que teria essa fila antes de um final de semana normal e no meio da tarde", afirmou Sophia.

    Esse cenário na travessia entre São Sebastião e Ilhabela, que recebe 4.000 veículos em dias úteis e 7.000 em finais de semana, não é atípico.

    Com a má condição das balsas sob responsabilidade da Dersa, ligada à gestão Geraldo Alckmin (PSDB), a rotina de estresse de motoristas tem se repetido -assim como a preocupação de que se agrave com a chegada do verão.

    Segundo a Dersa, a travessia no trecho conta com cinco balsas à disposição. Nesta sexta, apenas três circulavam. O número é frequentemente reduzido para que alguma passe por manutenção.

    E as previsões no site da empresa nem sempre são confiáveis: nesta sexta, a Folha demorou três horas para embarcar –das 12h às 15h–, enquanto a estimativa oficial se limitava a 90 minutos.

    Na prática, com a espera na balsa e a jornada pela rodovia, a viagem da capital paulista para Ilhabela pode demorado de seis a sete horas.

    O problema com as balsas se repete também no trajeto Santos-Guarujá, conforme mostrou a Folha em junho, quando um vídeo gravado por usuário fazendo uma alusão ao filme "Titanic" tonou sucesso na internet.

    PARA DISTRAIR

    Na fila para a travessia, é comum encontrar grupos de amigos fora dos carros tomando cerveja ou pessoas fazendo palavras cruzadas.

    Uma delas é Dinorah Beneduzzi, 52, professora de Monte Alegre do Sul (SP), que visitaria seu irmão. "Já estou há duas horas, ontem ele ficou duas também. Faço cruzadas, como frutas... Só não posso tomar muita água para não ficar com vontade de ir ao banheiro", afirma.

    O motorista de caminhão Márcio Alves, 28, esperava por três horas e 15 minutos para atravessar e descarregar um material de empresa de jardinagem. "Ninguém quer vir para cá", afirma, referindo-se aos colegas que trabalham com transporte de cargas.

    Ter de ir e voltar no mesmo dia -caso de Alves- resulta em um dia perdido. "Já cheguei às 8h e saí 21h e pouco."

    Morador de Ilhabela, Manoel Messias Sobrinho diz que já passou quatro horas e meia na fila em véspera de feriado. "É sempre esse caos".

    "Me sinto um otário. Uma sexta nublada, não era para estar essa fila. Ainda se fosse feriado ou tivesse algum evento importante. Mas são todos os dias", diz Sobrinho.

    O mau humor com a travessia levou à criação de uma página no Facebook sobre a insatisfação dos usuários.

    "A gente está com esse sistema sucateado há muitos anos. Ilhabela cresceu e a Dersa não fez investimento para acompanhar. Estamos perdendo turista, tem gente que me liga e cancela reservas na fila da balsa, pega algo por São Sebastião mesmo", diz Juliano Quaresma, 36, hoteleiro responsável pela página.

    Em outubro, ele organizou um abaixo-assinado entregue ao Ministério Público com 4.000 assinaturas para ser anexado a um inquérito aberto para investigar as condições oferecidas pela Dersa.

    MAIOR CAPACIDADE

    A Dersa afirma que as duas balsas ausentes das cinco que deveriam operar no trecho São Sebastião-Ilhabela estavam em manutenção corretiva, com problemas técnicos. Uma voltou a funcionar ainda nesta sexta-feira (21).

    A empresa diz que esse trecho ganhará mais duas balsas em novembro e uma terceira em janeiro, totalizando oito embarcações e aumentando a capacidade operacional de 316 para 562 veículos por hora em cada sentido.

    Os problemas técnicos são classificados como "em sua grande maioria pontuais", por necessidade de manutenções corretivas e preventivas.

    A Dersa cita investimentos de R$ 270 milhões desde 2011 em modernização, como "para substituir lanchas e ferryboats antigos por embarcações modernas e maiores" e revitalizar as existentes.

    Apesar dos transtornos presenciados pela Folha, diz que a travessia no trecho tem espera média de 30 a 60 minutos. Há preferência para motoristas que compram um serviço de agendamento Hora Marcada, cujo valor para carros comuns varia de R$ 43,50 a R$ 92.

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