O Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural de Pernambuco decidiu, por unanimidade, aceitar o pedido de continuidade do processo de tombamento do Edifício Oceania, localizado na orla de Boa Viagem, no Recife. O pedido de tombamento havia sido negado há dez anos e foi reavaliado após o edifício chamar a atenção como principal cenário e quase um "personagem" do filme "Aquarius", de Kleber Mendonça Filho.

A decisão atende ao pedido do arquiteto Milton Botler, que protocolou no início de outubro um requerimento solicitando a retomada da ação de salvaguarda do prédio.

O pedido original de tombamento foi feito em 2003 e negado em 2006. Agora, o processo será encaminhado à Fundarpe (Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco) para que seja expedido um parecer técnico. Depois disso, o processo volta ao Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural para ser distribuído a um relator e, após análise, deve ser incluído em pauta.

A atriz Sonia Braga, a principal personagem de "Aquarius", comemorou a decisão nas redes sociais. "Ótima notícia", escreveu na madrugada deste sábado (22).

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	Atriz Sônia Braga em cena do filme 'Aquarius' (2016), de Kleber Mendonça Filho.

No filme, a atriz vive a jornalista Clara, que resiste ao assédio de uma construtora interessada em demolir o Aquarius, um edifício antigo que sobreviveu aos tempos modernos, para construir um novo prédio no lugar. Clara, com seus discos e livros, é a última moradora do local.

Na vida real, o Oceania, nome verdadeiro do edifício, é um dos últimos remanescentes do estilo arquitetônico de residenciais multifamiliares de meados do século 20 e também já foi ameaçado de demolição.

De acordo com Múcio Jucá, professor de arquitetura e urbanismo da Unicap (Universidade Católica de Pernambuco), em 2003 uma construtora começou a compra de apartamentos no local e fez forte pressão para que outros proprietários participassem da negociação. O objetivo era demolir o Oceania para construir um prédio com mais apelo comercial.

Houve resistência de moradores e o edifício virou um símbolo da resistência contra a especulação imobiliária em Recife.

"Desde 2014 consta a informação que a construtora desistiu das intenções de demolir o edifício", diz o professor Juca na página Prédios do Recife, no Facebook. "Ainda assim, o Oceania nunca foi transformado em IEP (Imóvel Especial de Preservação) e, desta forma, a cidade permanece sem garantias reais de sua preservação".

História que pode mudar após o sucesso e as polêmicas provocadas pelo filme de Kleber Mendonça Filho.