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    Ceagesp privado de SP já tem adesão 'decisiva' de 200 comerciantes

    FABRÍCIO LOBEL
    DE SÃO PAULO

    25/10/2016 02h00

    O projeto privado de criação de um novo Ceagesp em São Paulo conseguiu a adesão de 200 comerciantes, número considerado decisivo para a criação de um entreposto no extremo norte da capital paulista.

    Para colocar o novo empreendimento de pé, os atuais 200 sócios (que podem chegar a mil) agora miram o financiamento público do BNDES, do governo federal, e da Agência de Desenvolvimento Paulista.

    A saída do Ceagesp da Vila Leopoldina tem apoio da gestão Fernando Haddad (PT), que quer revitalizar a região da zona oeste, e é endossada pelo prefeito eleito João Doria (PSDB), que deseja ver a área como um polo tecnológico.

    Leonardo Benassatto - 21.mar.2016/Futura Press/Folhapress
    Ceagesp, em São Paulo; cidade terá novo empreendimento do gênero, privado
    Ceagesp, em São Paulo; cidade terá novo empreendimento do gênero, privado

    Como alternativa ao atual Ceagesp, a ideia é construir um novo polo de comércio de alimentos em um terreno de 1,6 milhão de m² à beira da rodovia dos Bandeirantes, no bairro de Perus.

    Criado em 1966, o atual Ceagesp tem 700 mil m², 2.700 empresas atacadistas e 300 varejistas e uma administração vinculada ao governo federal. O local recebe cerca de 50 mil pessoas e 12 mil veículos diariamente.

    Segundo Sergio Benassi, um dos idealizadores do projeto privado em Perus, com os 200 investidores já é possível garantir a concretização do empreendimento que será chamado de Nesp, sigla para Novo Entreposto de São Paulo. "A construção é irreversível", diz Benessi.

    Cada um dos investidores, todos eles comerciantes do Ceagesp, adquiriu ações equivalentes a lotes dentro do terreno do Nesp. Até agora, 20% do terreno foi adquirido por vendedores de legumes, frutas e folhagens. Ainda não houve a adesão de vendedores de peixe, por exemplo.

    Os comerciantes também adquiriram cotas na criação de uma empresa que deverá gerir o novo entreposto.

    Com essas primeiras aquisições, foi possível reunir cerca R$ 200 milhões, que deverão ser pagos pelos permissionários (comerciantes cadastrados) em planos de 15 a 36 meses. A ideia é que, até o fim do ano, as ações restantes do empreendimento sejam vendidas apenas entre permissionários do Ceagesp.

    A partir de 2017, no entanto, estão previstas vendas de cotas para qualquer outro comerciante interessado. O plano é que o entreposto seja construído ao longo de cinco anos. A estimativa é que o projeto custe R$ 1,1 bilhão.

    Segundo a organização, há produtores do interior de São Paulo, Minas Gerais e Ceará interessados no negócio.
    gargalos

    Com uma movimentação anual de R$ 7,8 bilhões, o Ceagesp é administrado por uma estatal federal. A entidade é responsável pelo controle das notas fiscais dos produtos vendidos, o fluxo de caminhões nos pátios de carga e descarga e fiscalização fitossanitária no local.

    De todas essas atribuições da estatal, a que apresenta mais falhas é a manutenção da infraestrutura. O tema é alvo de reclamação de clientes e vendedores.

    Segundo Decio Zylbersztajn, engenheiro agrônomo e professor do departamento de administração da USP, as condições de trabalho no local estão ultrapassadas.

    "O Ceagesp tem uma estrutura pessoal boa. Mas como estrutura física, sob a ótica da manipulação dos produtos, do desenho interno de circulação das pessoas, é tudo da idade da pedra", afirma.

    FLÁ-FLU

    Nos corredores do Ceagesp, a proposta de um novo entreposto particular na cidade de São Paulo criou um clima de rivalidade entre permissionários. "Virou um flá-flu", resume um dos comerciantes.

    De um lado, estão os que apostam na mudança de endereço como uma chance de lucrar mais e fugir dos gargalos da falta de estrutura. Do outro, os que acreditam que a mudança traz muitas inseguranças e que a melhor alternativa é reformar o Ceagesp.

    Entre os que não apoiam a mudança está Aderlete Maçaira. Ela conta que desde 1969, ano em que sua família se instalou no Ceagesp, muitos foram os projetos de mudança de local.

    Para ela, a construção do Nesp ainda traz inseguranças aos comerciantes. Aderlete faz parte de um grupo de permissionários que, em vez de um novo endereço, deseja a autogestão da manutenção do Ceagesp.

    "A autogestão é importante para termos um novo sistema de controle de entrada de pessoas, de veículos, segurança, manutenção predial, fiscais de fluxo de caminhões. O que não elimina a presença da Ceagesp [estatal federal] no controle fitossanitário e de notas fiscais".

    Já para Wilson de Oliveira, 64, a melhor escolha é deixar o Ceagesp quando o entreposto particular ficar pronto. "Não vemos perspectivas de permanecer", conta ele, que trabalha na Vila Leopoldina há 16 anos e aderiu ao projeto.

    Para ele, além de ter ficado defasado, o Ceagesp tem falhas de manutenção. "Tudo lá é gambiarra, só não pegou fogo porque Deus não quis. Do dia para noite, aquilo pode fechar e nos deixar na mão", conta.

    Para tentar acalmar os permissionários, a direção do Ceagesp nas últimas semanas tem comentado sobre a possibilidade de uma grande reforma no centro. A ideia é revitalizar o espaço para melhorar o atendimento ao público.

    Outra hipótese é a mudança para um novo endereço. Diferentemente do proposto pelo Nesp, o Ceagesp estuda a criação de um entreposto que tenha administração pública.

    A mudança permitiria melhores condições de trabalho e a ampliação do volume de produtos negociados. A direção, porém, diz não ter projetos avançados sobre as propostas.

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