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    Litoral de SP tem calçadas, quiosques e ruas destruídas três dias após ressaca

    PAULO GOMES
    ENVIADO ESPECIAL AO LITORAL SUL DE SP

    01/11/2016 17h00

    O cenário em Mongaguá, uma das cidades mais atingidas pela ressaca do fim de semana, é de devastação.

    Três dias após o pico do avanço do mar, ocorrido no sábado (29), equipes públicas ainda trabalham na limpeza das orlas e a prefeitura estima os custos da reconstrução para a temporada, enquanto comerciantes lamentam o prejuízo e moradores relatam a mudança na rotina.

    A ressaca foi provocada por um ciclone extratropical que se formou entre o Uruguai e o Rio Grande do Sul. À medida em que se deslocou pelo oceano provocou ventos intensos, favorecendo a formação de grandes ondas, causando danos em cidades do litoral Sul e Sudeste. No Rio, houve interdições e danos em quiosques e foi emitido alerta de inundações em Santa Catarina

    Na tarde de sábado, as ondas derrubaram postes, destelharam quiosques e a calçada da orla cedeu. "Fiquei com medo", conta Fátima Bezerra, 59, dona de um bar na avenida Governador Mário Covas Jr., na beira da praia.

    Segundo ela, as ondas batiam na mureta do passeio e subiam três metros. "A água chegou a atravessar a rua e veio até a calçada do bar", diz.

    Ela aponta para os destroços de um barco a alguns metros, na areia da praia, uma das partes ainda amarrada a um poste. "O dono é um pescador, o seu Antônio. Ele ainda está pagando esse barco. Conseguiu salvar só o motor", afirma.

    Nesta terça (1º), funcionários da prefeitura ainda realizavam a remoção da areia que invadiu o asfalto. Trabalhando há quatro anos na limpeza pública, Avasty Rodrigues, 54, diz que nunca tinha visto algo semelhante. "Essa foi a pior (ressaca)."

    O casal Shunji, 65, e Luísa Minami, 58, mora na região há dois anos. Durante a caminhada matinal, Shunji chama atenção para o nível da areia após o estrago: a rampa de acesso à praia termina ao menos setenta centímetros acima da areia, obrigando os banhistas a saltar. "Tem que arrumar rápido porque a temporada está chegando", diz.

    A prefeitura estima que deverá gastar entre R$ 5 milhões e R$ 5,2 milhões para recuperar muretas, passeios e rampas de acesso. Segundo o diretor de obras Otávio Mosca Diz, o orçamento de 2016 já está comprometido, por isso o município pleiteia verba para a restauração com o governo do Estado –o prefeito Arthur Parada Prócida, do PSDB, se reelegeu.

    A reposição dos postes de luz, por sua vez, deve ser financiada com dinheiro da Contribuição de Iluminação Pública (CIP).

    Mosca Diz afirma que a prioridade é retomar a acessibilidade da orla o quanto antes. O diretor diz que a areia teve uma depressão de 1,5 m. "A água entrou por baixo da mureta e foi cavando a areia, por isso que tirou a sustentação [do passeio que cedeu]", afirma. Ele estipula que as obras emergenciais levarão 60 dias.

    Proprietária de um quiosque, Cynthia Alexandrini, 55 afirma ter perdido o sustento da família. Ela diz que seu estabelecimento foi destelhado pelas ondas ainda na sexta (28) e, na tarde de sábado, o mar derrubou o alicerce do quiosque, que estava fechado após o alerta da Defesa Civil para o mar revolto.

    Com o marido, ela viu a estrutura ceder. "Assistimos a tudo do outro lado da rua, chorando. " A perda foi de R$ 50 mil, segundo ela, dona do ponto há cinco anos. "Nunca tive prejuízo com ressaca antes. Para essa temporada acho que já não dá mais tempo de recuperar", diz.

    Dentro da estrutura destruída, é possível ver os eletrodomésticos soterrados. "Ainda não sei quem que vai pagar", afirma Cynthia.

    Se depender da prefeitura, a reparação é inteira na conta do proprietário. "O quiosque que cedeu é problema dele. Ele vai ter que se virar para reconstruir", afirma Mosca Diz.

    SANTOS

    Em Santos, maior cidade da região, ainda que o nível do mar no sábado produzisse imagens impressionantes, como a água invadindo a av. Bartolomeu de Gusmão em frente à igreja do Embaré ou os canais tendo que ser desassoreados, o impacto foi bem menor do que em Mongaguá.

    As principais regiões atingidas foram a Ponta da Praia, área mais sujeita a transtornos causados pelo mar, e a zona noroeste, que sofreu alagamentos. Nesta terça, no entanto, o único traço da fúria da maré eram os funcionários da prefeitura que realizavam o trabalho de reparação das muretas na av. Almirante Saldanha da Gama, na Ponta da Praia.

    "Graças a Deus não tive [danos]. Chega de prejuízo!", diz Vânia Magalhães, 46, proprietária da lanchonete no Deck do Pescador, ponto referência do bairro. Segundo ela, a diferença desta ressaca para a anterior, de 21 de agosto, é que desta vez o avanço do mar não foi acompanhado de fortes ventos.

    "Em agosto eu perdi tudo, não sobrou nada. Foram R$ 20 mil [de prejuízo]. Agora o mar só quebrou as muretas antigas", diz. As muretas reformadas após a ressaca de agosto, segundo Vânia, não foram abaladas.

    Segundo a prefeitura, desta vez foram danificados cerca de 5 metros de muretas na Ponta da Praia e menos de 1 metro no Emissário Submarino. Os principais danos foram os assoreamentos dos canais e rede de drenagem, além de deposição de muita lama e areia em toda extensão das calçadas, alamedas, jardins e vias da orla da praia.

    Ainda segundo o órgão os custos serão absorvidos pelos contratos de limpeza da cidade e, no caso das muretas, será captada verba no contrato emergencial que contemplou as ressacas anteriores. As obras do passeio e das muretas devem ser concluídas em 30 dias e não causarão transtornos para a temporada.

    No Guarujá, a ressaca foi ainda menos sentida, causando apenas alagamentos e, por causa do mar revolto, a interrupção do serviço de travessia para Santos. O serviço já opera normalmente.

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