Sem dinheiro para conseguir pagar a reforma total do seu teatro municipal, moradores de Batatais (a 354 km de São Paulo) encamparam um projeto em que adotam poltronas para poder concluir a reestruturação do local.

Os 509 assentos do teatro Fausto Bellini Degani estão sendo reformados apenas com recursos de doações de moradores.

O espaço ficou um ano e meio fechado para ser reformado, mas as obras, com verbas da prefeitura e do Ministério da Cultura, não contemplavam os assentos, e não havia caixa na administração para fazer o restauro.

A solução foi apelar ao sentimento do público pelo espaço, que abriga cursos da área e reúne os principais eventos do ano na cidade, como formaturas e apresentações de escolas e academias, para contornar o impasse.

Poltronas rasgadas, quebradas, sujas e com estofamentos danificados por água eram comuns no teatro. Em algumas, a perda era total.

Então, moradores, como o funcionário público Ubaldo Mozart Ribeiro, contribuíram com R$ 123 por poltrona e, em troca, ganharam uma plaquinha com o nome na parte traseira do assento.

Ribeiro pagou uma em nome do pai, o maestro Alfeu Ribeiro, que sempre foi vinculado à cultura local, e outra no da mãe, Paschoalina.

"Em primeiro lugar, decidi fazer isso para ajudar mesmo, porque o teatro precisava, e também para homenagear meu pai, eternizar o nome dele. O teatro seria o melhor lugar para isso", disse.

Segundo a diretora do departamento de cultura, Alessandra Baltazar, faltam apenas 40 poltronas para serem adotadas, o que deve ser concluído até a próxima semana.

"Foi muito importante esse engajamento, para o fomento da própria cultura local. Tem placas homenageando familiares, grupos de colegas ou de trabalho, além de homenagens póstumas e até presente de aniversário", afirmou.

A ação popular ocorre num ano em que o turismo e a cultura local foram abalados com a não realização do Carnaval, um dos mais tradicionais do interior, e com a redução da Festa do Leite, de nove para cinco dias. Tudo pela crise.

As obras de reforma no teatro custaram R$ 329 mil e contemplaram troca do telhado, instalação de telhas termoacústicas, calhas e readequação de espaços, como o saguão e a sala da bilheteria, além de pintura externa.

"A ideia [das poltronas adotadas] partiu da gestora, mas só deu certo porque teve apoio, foi abraçada pela cidade", disse a diretora.