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    Gestão Alckmin rejeita perícia alternativa para jovens mortos

    LEANDRO MACHADO
    ROGÉRIO PAGNAN
    DE SÃO PAULO

    09/11/2016 02h00

    O governo Geraldo Alckmin (PSDB) decidiu desconsiderar um pedido de entidades de defesa dos direitos humanos para que peritos independentes acompanhem os trabalhos do IML do Estado na análise dos corpos dos cinco jovens que estavam desaparecidos e foram achados em uma área rural da Grande SP.

    A solicitação, encabeçada pela Secretaria dos Direitos Humanos da gestão Haddad (PT), tinha envolvimento do Condepe (Conselho Estadual de Direitos Humanos) e da Ouvidoria da Polícia. Ela foi motivada pelas suspeitas de participação de policiais na chacina dos jovens –encontrados mortos após mais de duas semanas sumidos.

    A Secretaria da Segurança Pública disse que "as perícias estão sendo feitas normalmente" e decidiu nem avaliar esse pedido por enquanto. Afirmou que ele somente será analisado "se for apresentada alguma alegação que coloque sob suspeição" a ação dos peritos oficiais.

    A proposta de uma perícia independente envolveria profissionais que atuaram na identificação de ossadas de vítimas da ditadura militar enterradas no cemitério de Perus, na zona norte. De acordo com membros do Condepe, a ideia era garantir que todas as provas fossem levadas ao inquérito.

    Dois PMs foram ouvidos pelo DHPP (departamento de homicídios) porque teriam consultado, no início do mês passado, os antecedentes de dois dos rapazes mortos.

    Além disso, cápsulas calibre.40 foram encontradas no local onde estavam enterrados os corpos. Parte delas pertencia a lotes de munição comprados pelas Polícia Militar e Civil de São Paulo. Mas policiais dizem que, por enquanto, foram localizados nos corpos apenas projéteis de calibre 38 e 12.

    Além da hipótese de envolvimento de policiais, a gestão Alckmin passou a dizer que outra linha de investigação do crime é um suposto acerto de conta entre criminosos. Isso porque um dos rapazes mortos teria danificado o carro de um traficante, em acidente de trânsito, mas não teria pago pelo conserto. O suposto traficante, apelidado de Titanic e ligado à facção criminosa PCC, teria jurado o jovem de morte.

    Só três dos cinco corpos já foram identificados e serão entregues às famílias nesta quarta: Caíque Henrique Machado, 18, e Cesar Augusto Gomes, 19, e Robson de Paula, 16. Para pagar os caixões, familiares começaram a fazer uma vaquinha no bairro onde viviam, na zona leste. Alguns parentes dizem ter recebido ameaças nos últimos dias.

    INDÍCIOS DE SUPOSTA PARTICIPAÇÃO DA PM

    O DESAPARECIMENTO

    21.out
    - Às 23h, os jovens saem da zona leste para ir a uma suposta festa em Ribeirão Pires. Foi a última vez em que foram vistos –após o desaparecimento, os perfis das meninas que os convidaram sumiram do Facebook

    - Por volta da 0h30, César envia uma mensagem pedindo a um amigo que os buscasse, pois o carro havia quebrado. Não se sabe, porém, se o carro quebrou de verdade; esse amigo acredita era apenas uma forma de atrai-lo para a festa

    - Um dos garotos manda um áudio a uma amiga dizendo que o grupo havia sido parado por PMs: "Ei, tio. Acabo de tomar um enquadro ali. Os polícia tá me esculachando [sic]", dizia a mensagem

    23.out
    - O carro é encontrado aberto no rodoanel; ele não estava quebrado e não havia sangue

    - Durante as duas semanas seguintes, família e amigos fazem buscas por conta própria em cidades próximas, como São Paulo, Santo André, Mauá, Ribeirão Pires, Atibaia e Bragança Paulista

    6.nov
    - A polícia acha os corpos dos cinco jovens em um matagal na estrada Taquarussu, em Mogi das Cruzes

    Fonte: Boletim de Ocorrência/Polícia Civil

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