Sem grandes eventos à vista pela primeira vez em anos, o Rio pós-olímpico enfrentará velhos e novos problemas que devem desafiar o eleito Marcelo Crivella (PRB), que assume a prefeitura em janeiro.
Com o slogan "É hora de cuidar das pessoas", Crivella buscou, na campanha, passar a mensagem de que a gestão Eduardo Paes (PMDB) gastou demais em obras para receber a Olimpíada e deixou de lado serviços públicos. Em seu programa, diz que saúde e educação serão prioridade, mas é vago sobre como fará isso.
Ricardo Borges/Folhapress | ||
O prefeito eleito do Rio de Janeiro, Marcello Crivella (PRB), comemora vitória |
Na saúde, Crivella encontrará para o ano de 2017 orçamento total de R$ 5,4 bilhões, inferior ao de 2016 (R$ 5,5 bi), sendo apenas R$ 5 milhões disso para investimento. Encontrará também filas para atendimento em especialidade médica: de até 145 dias para consultas de cirurgia vascular, 120 para neurologista e 39 para cardiologista.
"Ele terá que resolver isso sem interromper a expansão da saúde básica, que cresceu nos últimos anos. A atenção básica é importante porque pode evitar problemas graves", diz Valcler Rangel, vice-presidente de Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz.
Rangel lembra a histórica ameaça de dengue, e, agora, também de zika e chikungunya. Foram notificados, de janeiro a maio, 64.167 casos suspeitos de dengue no Estado do Rio, aumento de quase 40% em relação ao mesmo período de 2015, com quatro mortes. Além disso, 45.991 casos suspeitos de zika e 4.177 de febre chikungunya –destes, 2.276 foram confirmados.
A outra frente que Crivella diz ter como prioridade é a educação. O cenário nessa área, para 2017, é de orçamento de R$ 6,4 bilhões, inferior ao de 2016, e 25 mil crianças sem vaga no ensino infantil. Crivella diz que vai criar 20 mil novas vagas em creches e 40 mil novas vagas em pré-escolas até 2020, com investimentos por meio de parcerias público-privadas.
'CHEGA DE OBRA'
Mas, por mais que tenha bradado o "chega de obra", Crivella terá que finalizar construções inacabadas. Por exemplo, reatar a construção do BRT Transbrasil, corredor que vai transportar 820 mil pessoas por dia. Foram construídos 10,9 km dos 32 km previstos. Nenhuma das 28 estações e 15 passarelas estão prontas. A obra, com custo de R$ 1,4 bilhão, foi interrompida durante os Jogos e está parada desde então.
"Deixar obra parada é jogar dinheiro fora", avalia o professor de engenharia de transporte da UFRJ Ronaldo Balassiano. "Enquanto isso, a demanda cresce, e o transporte já começará a funcionar mais cheio do que o previsto." Ainda que tenha falado pouco de equipamentos olímpicos durante a campanha eleitoral, ele terá que lidar com o suposto legado do Parque Olímpico da Barra.
Edital de licitação lançado pela prefeitura para a gestão do parque depois dos Jogos prevê gastos dos cofres municipais de R$ 331 milhões na desmontagem das estruturas que vão desaparecer, assim como na adaptação para os novos usos das arenas.
Tudo isso com um obstáculo que perpassa todos os outros: seu primeiro ano à frente do Executivo terá orçamento de receitas menores, corte de investimentos e gastos com dívidas mais altos. Proposta de orçamento enviado pela gestão atual de Eduardo Paes (PMDB) prevê queda de receita de R$ 1,36 bilhão, sem considerar a inflação registrada no período.
A Prefeitura do Rio estimava arrecadar R$ 30,9 bilhões neste ano, contra R$ 29,5 bilhões no ano que vem –queda nominal na casa de 4,3%. A receita de transferência, recursos principalmente vindos da União por convênios para obras na saúde, transportes e educação, cairá de R$ 1,1 bilhão para R$ 349,9 milhões –recuo de 68%.
A estimativa de queda de investimento é de 60%. Em 2016, a previsão era de R$ 5,3 bilhões, contra R$ 2,1 bilhões no ano seguinte, um corte de R$ 3,1 bilhões no período.