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    Sob protestos, corpos de jovens mortos na Grande São Paulo são enterrados

    ROGÉRIO PAGNAN
    DE SÃO PAULO

    12/11/2016 15h37

    Foram enterrados na tarde deste sábado (12) no cemitério da Vila Alpina, na zona leste de São Paulo, os corpos de quatro dos cinco rapazes vítimas de uma chacina supostamente praticada por um grupo liderado por um guarda municipal de Santo André (Grande SP).

    Houve protestos e revolta dos familiares das vítimas diante da possibilidade de as mortes terem sido uma vingança por um outro crime, em que não há comprovação do envolvimento dos jovens.

    "Se alguém devia, que pagasse, não matar inocentes que não têm nada a ver", disse Amélia Donato, tia de Robson de Paula, 16, que era cadeirante. "Só esperamos justiça agora."

    A principal linha de investigação da polícia é que a chacina tenha sido praticada por guardas municipais de Santo André, em vingança pela morte do GCM Rodrigo Lopes Sabino, assassinado durante um assalto no dia 24 de setembro.

    Um dos cinco rapazes atacados, Caíque Machado Silva, 18, havia sido incluído na lista de suspeitos de envolvimento no assassinato do guarda.

    O também guarda-civil de Santo André Rodrigo Gonçalves de Oliveira foi preso na última quinta (10), sob suspeita de ter criado uma emboscada para matar os cinco jovens.

    Ele confessou ter usado um perfil falso em uma rede social para convidar os rapazes para uma festa, mas diz que o grupo não apareceu no local combinado e que foi embora.

    Os jovens desapareceram em 21 de outubro, no caminho da suposta festa, e os corpos foram achados no último domingo (6) numa área rural em Mogi das Cruzes (Grande SP).

    Os jovens desapareceram em 21 de outubro, no caminho da suposta festa, e os corpos foram achados no último domingo (6), numa área rural em Mogi das Cruzes (Grande SP).

    CHOROS E GRITOS

    "Vou colocar na cadeia um por um", disse Adriana Moreira, mãe de um dos jovens, aos berros, assim que chegou ao cemitério.

    Cerca de 400 pessoas acompanharam os enterros. O comboio do serviço funerário chegou às 15h48, quase três horas e 30 minutos após o horário previsto, em função da burocracia para a liberação dos corpos.

    Isso reduziu o tempo disponível para as famílias se despedirem. Foram 58 minutos entre a chegada dos caixões até o aviso dos funcionários do cemitério que o tempo havia acabado.

    Houve muito choro e gritos desesperados dos familiares na chegada do comboio, que só cessaram 20 minutos depois, quando alguém puxou uma oração.

    Parte dos familiares estava revoltada com a divulgação de informações negativas dos jovens –quatro dos cinco jovens, com idades entre 16 e 30 anos, acumulavam, juntos, 29 registros de passagem pela polícia – e com o secretário estadual da Segurança, Magino Alves Barbosa Filho, que defendeu a PM.

    "Na reunião com as famílias ele disse que havia preconceito com a polícia. Eu disse pra ele: eu moro na periferia, senhor. Eu sei o que é a polícia. Meu filho estava na cadeira de rodas por causa dela", disse a mãe de Robson de Paula, a dona de casa Elza.

    Após o enterro, algumas das mães afirmaram que acreditam que o guarda municipal teve ajuda de uma mulher. Ela teria gravado um vídeo usado para atrair os jovens ao local.

    ENTERRO ADIADO

    O corpo do padeiro Jones Januário, 30, o mais velho do grupo, ainda não tem data para ser enterrado.

    Seus pais foram neste sábado ao cemitério da Vila Alpina esperar pelo corpo, que não chegou. Uma irmã de Jones não fez a liberação necessária no IML, por isso, o enterro só deve ocorrer neste domingo (13) ou na segunda (14).

    O sepultamento foi acompanhado por entidades ligadas aos direitos humanos, que elogiaram o trabalho da polícia. Disseram que a resposta foi rápida, mas, agora, precisa ser completada. "Temos certeza que existe muitos outros policiais envolvidos", disse Cheila Olalla, do Condepe (conselho estadual de direitos humanos).

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    Cronologia do crime

    GCM morto
    Em 24.set, o guarda de Santo André Rodrigo Lopes Sabino é assassinado em um roubo, em bairro próximo de onde moravam os 5 jovens vítimas da chacina

    Carro queimado
    Guardas acham o veículo do GCM queimado, também perto de onde moravam os rapazes, e descobrem o nome de dois jovens que estariam envolvidos no latrocínio

    Emboscada
    O guarda Rodrigo Gonçalves Oliveira usa perfil falso no Facebook, se passando por uma garota, para combinar de encontrar os rapazes em uma festa

    Sumiço
    Em 21.out, eles desaparecem após saírem para a suposta festa, por volta das 23h

    Página excluída
    O perfil da garota que combinou o encontro é apagado da internet

    Corpos encontrados
    No dia 6.nov, os 5 corpos são achados em Mogi das Cruzes (Grande SP), com projéteis de calibres 38 e 12, usados por guardas municipais do país

    GCM preso
    Na noite de quinta (10), o guarda Oliveira é preso e tem prisão temporária decretada por 30 dias

    Sepultamento
    No sábado (12), quatro dos rapazes são enterrados na zona leste de São Paulo; o corpo de Jones, 30, ainda não foi liberado

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