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    Transição Paulistana

    Maratona de ônibus até a periferia de SP tem 2 horas de usuários amassados

    GIBA BERGAMIM JR.
    DE SÃO PAULO

    20/11/2016 02h00

    A ambulante Vera Lúcia Fernandes, 53, se acomoda nos primeiros bancos do ônibus que parte do terminal Dom Pedro 2º em direção à Cidade Tiradentes e avisa a reportagem: "Senta logo, senão você vai em pé daqui até lá".

    O trajeto em questão são os 35 km que ligam o terminal de coletivos no centro ao ponto final, no extremo leste de São Paulo, e que dura duas horas.

    Esse é o tempo médio de viagem da linha 4210 (Parque Dom Pedro-Cidade Tiradentes), uma das mais longas da cidade. Superlotação, trânsito carregado e o calor no coletivo sem ar-condicionado formam a tríade de reclamações dos passageiros.

    São dramas cuja responsabilidade pela solução agora competem ao prefeito eleito João Doria (PSDB).

    Problemas semelhantes foram constatados pela Folha há 14 anos, quando a reportagem fez a mesma viagem, na época em que a linha partia do Terminal Princesa Isabel, na Luz, com o mesmo destino.

    Era 2002, segundo ano da gestão de Marta Suplicy (PT), quando uma reestruturação do sistema era planejada e o Bilhete Único não existia –a passagem, na ocasião, custava R$ 1,40 (a tarifa atualmente é de R$ 3,80 em São Paulo).

    De lá para cá, houve uma série de mudanças, que embora tenham trazido melhorias ao sistema, mexeram pouco no desconforto da viagem. A futura licitação dos ônibus prevê veículos novos, com ar-condicionado e internet.

    A conta do transporte

    APERTO

    Na última quarta-feira (16), às 18h08, Vera Lúcia embarcou no ônibus em direção a sua casa, em Tiradentes.

    "Faz 20 anos que pego esse ônibus. É melhor do que antes, mas você vai ver. A gente vai chegar ao Brás [ponto seguinte] e vai ficar abarrotado. Daqui até a zona leste vai assim", disse. A melhora, segundo os passageiros, é efeito da faixa exclusiva de ônibus à direita nas principais avenidas do trajeto. Todos, porém, esperam pelo corredor na Radial Leste, ainda emperrado e sem previsão.

    Dez minutos após o início da viagem, a previsão da ambulante se confirma. No largo da Concórdia, o conferente Naldo Deoclécio, 49, se aperta na parte de trás para a mesma viagem que faz há 16 anos. "Vou chegar em casa lá pelas 20h ou 20h30. Tem que ter mais ônibus articulados [maiores, conhecidos como ônibus-sanfona]. Esses daqui são pequenos e lotam rápido."

    O que Doria pode fazer

    CHUVA

    A designer de joias Keylla Ferreira, 34, também faz essa viagem, mas em pé. "É cansativo e sempre lotado. Mas é a solução, porque metrô é pior [por causa da superlotação]."

    Com o coletivo já está abarrotado, por volta das 19h uma tempestade atinge a região de Aricanduva. Motorista e cobrador permitem que alguns passageiros entrem por trás. Encharcado, o porteiro Valdemar Medeiros, 45, é um deles.

    A parada onde ele aguardava o ônibus não tinha cobertura. "É injusto, porque isso deveria ser um direito nosso", disse, após se acomodar na escada, onde ainda havia um pequeno espaço disponível.

    Desafios de Doria

    A viagem segue e, 40 minutos depois, Valdemar desembarca com boa parte dos passageiros, o que alivia a lotação, embora todos os assentos sigam ocupados.

    Às 20h08, enfim, o ônibus chega ao terminal Cidade Tiradentes. Deoclécio se despede: "A gente se acostuma com o sofrimento. Amanhã será tudo a mesma coisa".

    Procurada, a prefeitura informou que a linha opera com uma frota de 26 ônibus, sendo sete articulados, com intervalos médios de seis minutos no horário de pico. "Na renovação da frota, os ônibus novos são equipados com ar-condicionado." Sobre a falta de cobertura em pontos, a prefeitura diz que são exceções.

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