Desde que os primeiros colonos deixaram a Alemanha e aportaram na minúscula Florianópolis de 1828, os Koerich são os comerciantes de Santa Catarina. Mas quem vê hoje o sobrenome nas fachadas não imagina que o império começou com uma venda no alto da serra, na rural Angelina, sob os auspícios do patriarca Eugênio –e a ajuda sempiterna de Paulo Olavo.

Quando o segundo dos 11 filhos nasceu, em Rancho de Tábuas, o pai passava dias a sacolejar na carroça até a capital: ia com produtos coloniais, voltava com panelas e enxadas. Um dia, o primogênito caiu no poço da olaria. E Paulo virou o filho mais velho. Ao descerem para Colônia Santana, hoje São José, abriram o armazém Koerich. O braço direito foi ele. Os irmãos se mudaram para a capital e ergueram o império: a fiambreria, a loja de móveis, o primeiro supermercado do Estado. Paulo ficou com o pai do outro lado da ponte. "Alguém tinha de cuidar do armazém", diz o filho, Carlos Eugênio.

De poucos estudos e muita resiliência, subia na carroça e vendia, como o patriarca o fizera, os secos e molhados. Só quando o armazém fechou, em 1970, mudou-se para a ilha. Décadas depois, quando o grupo havia cindido e o primogênito, assumido sua parte na rede de lojas, seguiu na lida. Era comerciante, dizia, "tinha de trabalhar".

Quando morreu, dia 10, aos 90 anos, por complicações de uma queda, havia aprendido a gozar o tempo: com as partidas de dominó, os jogos do Avaí na TV ou vendo, da ponta da mesa, seus 11 filhos, 30 netos e 26 bisnetos –em Natais mais fartos que os dos tempos da carroça.

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