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    Transição Paulistana

    Reanálise da gratuidade de ônibus preocupa e revolta idosos em SP

    FERNANDA PEREIRA NEVES
    DE SÃO PAULO

    23/11/2016 02h00

    Guilherme Brendler/Folhapress
    Já começam a sair do terminal parque dom Pedro ônibus com passageiros
    Ônibus aguarda travessia de pedestres no Terminal Parque Dom Pedro

    "Eu não sou de reclamar, mas pela gratuidade do ônibus eu seria a primeira a protestar lá na frente da prefeitura", afirma em voz alta a desempregada Maria Aparecida da Silva, 63, ao comentar a reanálise do passe livre de ônibus. "Não lutei tanto pra chegar agora, nessa idade, e tirarem meus benefícios", completa.

    No terminal Princesa Isabel, no centro de São Paulo, Maria Aparecida aguardava um ônibus, na manhã desta terça (22), para a região de Santo Amaro (zona sul), onde faz tratamento contra o câncer. Na fila, outras pessoas rapidamente concordam com ela. "Um absurdo", "eles não podem fazer isso", são algumas das frases.

    "É safadeza [a reanálise do benefício]. Se soubesse, não teria votado nele [Doria]. Se for preciso, vou pra rua também", afirma a pensionista Ana Maria Santos, 63, que pegava um ônibus para buscar remédios para uma amiga.

    Fernanda Pereira Neves/Folhapress
    Maria Aparecida da Silva, 63, ao lado do marido, aguarda ônibus para mais uma consulta médica
    Maria Aparecida da Silva, 63, ao lado do marido, aguarda ônibus para mais uma consulta médica

    Como a Folha já mostrou, a equipe do prefeito eleito João Doria (PSDB) pretende colocar em reanálise alguns grupos que hoje contam com a gratuidade dos ônibus. Um provável primeiro alvo dessa mudança nas gratuidades são as pessoas com mais de 60 anos.

    Pelo Estatuto do Idoso, lei federal de 2003, a gratuidade só é obrigatória nos transportes para quem tem mais de 65 anos. Na faixa etária entre 60 e 65 anos, o benefício fica a critério de Estados e municípios, e foram estendidos pelo governo e pela Prefeitura de São Paulo nos últimos anos.

    A mesma revolta de Maria Aparecida e Ana Maria se repetiu em um ponto de ônibus da av. Angélica, na região de Higienópolis (centro). "Se falta dinheiro, vamos cortar benefícios de deputados, vereadores. Se começasse por eles, todos concordariam", dizia a aposentada Sônia Pupo Ribeiro Faedo, 69, arrancando aplausos de Rita Verdaguer, 71.

    Para a secretária Aline Sasson, 61, a possibilidade de perder o passe livre "é péssima financeira e moralmente". "Já são tão poucos os benefícios em envelhecer. Você não consegue mais emprego, começa a ter problemas de saúde, agora vai perder o pouco que tem?", questiona.

    Gratuidade nos ônibus - Um terço das viagens em São Paulo é feito com desconto ou passe livre

    Após a análise das planilhas do transporte, os técnicos da equipe de Doria concluíram que os custos adicionais para manter a tarifa congelada em 2017 chegariam a R$ 1,25 bilhão, um valor suficiente para construir mais de 30 km de corredores exclusivos para ônibus.

    Com isso, a equipe do tucano também considera a possibilidade de aumentar a passagem para um valor intermediário entre os atuais R$ 3,80 e os projetados R$ 4,40. A intenção é repassar aos usuários apenas os valores gastos pela prefeitura para cobrir benefícios e gratuidades.

    "Isso é um alerta. Os políticos não podem ir prometendo tudo porque não vai dar pra cumprir. Uma hora o dinheiro acabar. Mas se for pra revisar alguma coisa, que não seja o direito dos idoso. A aposentadoria já é pouca e eles nem usam o transporte todos os dias", afirma a supervisora de telemarketing Azalea Capella, 63.

    A diarista Cleusa de Souza Cabral, 60, começou a usar o benefício há poucos meses e também lamenta. "Eu sempre paguei, mas como tinha direito [à gratuidade] resolvi usar também. Vai ser ruim se tirarem o benefício, mas eu ainda trabalho, estou na ativa. Imagino que será pior para quem vive só da aposentadoria".

    "Isso é um direito adquirido, não tem nada que mexer", diz o aposentado Samuel Cirino, 62. Já a pensionista Zenir Sampaio conclui: "Sem a gratuidade não sairia mais de casa".

    Fernanda Pereira Neves/Folhapress
    supervisora de telemarketing Azalea Capella, 63, aguarda ônibus no terminal Princesa Isabel para ir ao trabalho
    A supervisora de telemarketing Azalea Capella, 63, aguarda ônibus no centro de SP para ir ao trabalho
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