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    Elize Matsunaga buscará pena branda 4 anos após matar herdeiro da Yoki

    ROGÉRIO PAGNAN
    DE SÃO PAULO

    26/11/2016 02h00

    Robson Ventura - 6.jun.2012/Folhapress
    Elise Matsunaga chega à delegacia de homicídios em 2012; ela vai a júri popular

    Quatro anos após matar, esquartejar e espalhar o corpo do marido em uma mata, Elize Kitano Matsunaga, 34, vai a júri popular a partir desta segunda-feira (28) em busca de uma condenação mínima pelo crime de ampla repercussão em São Paulo.

    Bacharel em direito, ex-enfermeira, ex-garota de programa e, desde 2012, presidiária de Tremembé (interior do Estado), Elize é ré confessa.

    Diz ter atirado no marido, o empresário Marcos Matsunaga, herdeiro do grupo Yoki, na noite de 19 maio de 2012 em meio a uma das inúmeras brigas do casal. Afirma que agiu no calor da discussão (usou uma das quatro armas registradas em seu nome) e que foi agredida por ele com um tapa no rosto.

    Após efetuar um disparo na têmpora da vítima, ela dividiu o corpo em seis partes (diz ter usado uma faca de cozinha), colou-os em malas de viagem (dentro de sacos de lixo) e livrou-se deles numa mata em Caucaia do Alto (na Grande São Paulo).

    "Fez isso por desespero. Desespero de uma mãe que ia perder sua filha. Abandonar as partes do corpo foi apenas uma consequência desse desespero, porque não encontrou outra saída", afirma a advogada Roselle Soglio, uma das defensoras de Elize.

    Com houve confissão do crime, a tentativa da defesa será tentar afastar as três qualificadoras do homicídio (motivo para agravar a pena) pelas quais ela é acusada: meio cruel (esquartejamento), sem chances de defesa e motivo torpe (teria matado por vingança e pela herança).

    Os advogados de Elize afirmam haver no processo provas que afastam ao menos duas dessas qualificadoras, em especial sobre o meio cruel.

    A defesa diz que, quando houve o esquartejamento, a vítima já estava morta. A Promotoria sustenta que ele ainda estava vivo e, por isso, há sinais de sangue no pulmão.

    Se for condenada por homicídio simples, Elize terá uma pena entre 6 e 20 de prisão. Como está presa há mais de quatro anos e não tem outros antecedentes criminais, ela poderia sair do júri com ordem de soltura por ter cumprido mais de um sexto da pena.

    A condenação por destruição e ocultação de cadáver, de 1 a 3 anos de prisão, não afetaria muito na contagem.

    Roselle Soglio diz acreditar até na hipótese de absolvição pelo homicídio, já que Marcos era maior que a vítima e lutador de artes marciais. "O fato de ser ré confessa não quer dizer que não possa ser absolvida. Ela tinha motivos para ter atirado. Existem motivos para ela ter praticado o ato", disse Roselle.

    Com as qualificadoras, o homicídio é considerado hediondo e a condenação pode chegar a 30 anos. Além disso, os pedidos de progressão de pena só poderiam ser feitos após o cumprimento de dois quintos da pena total.

    "Eu não posso concordar, como promotor de Justiça e como ser humano, que ocorra um fato deste impunemente", afirmou o promotor José Carlos Cosenzo. "Pelo requinte, pela forma que a vítima foi morta, menos de 24, 25 anos de condenação, eu não vou me conformar", concluiu.

    Para o Ministério Público, a versão de briga contada por Elize não tem lastro em provas. Na verdade, na visão da Promotoria, ela cometeu o crime por ciúmes do marido (ficou sabendo de nova amante) e tinha interesse no dinheiro da família. O valor do grupo Yoki era estimado em R$ 2 bilhões (além de seguro de vida de R$ 600 mil).

    Cosenzo diz que a personalidade da ré pode ser medida pelo próprio esquartejamento. "Qualquer literatura jurídica diz que o esquartejamento é coisa de psicopata. A pessoa sabe efetivamente o que vai fazer. É ódio incontido."

    A expectativa é de que o julgamento dure ao menos três dias. Os trabalhos devem começar com a escolha dos sete jurados e vai ocorrer do Tribunal de Justiça da Barra Funda (zona oeste de SP). Foram convocadas pela acusação e defesa 22 testemunhas, incluindo peritos e policiais.

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