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    Com testemunhas da acusação, começa o julgamento de Elize Matsunaga

    ROGÉRIO PAGNAN
    DE SÃO PAULO

    28/11/2016 11h31 - Atualizado às 20h50

    Suamy Beydoun/AGIF/Folhapress
    SAO PAULO - SP - 24/11/2016 - Elize Matsunaga sentada ao lado dos seus advogados de defesa aguardando o inicio do julgamento no Forum Criminal da Barra Funda em São Paulo, Foto: Suamy Beydoun/AGIF *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
    Elize Matsunaga (esquerda) sentada ao lado dos seus advogados de defesa no Fórum da Barra Funda

    Começou no final da manhã desta segunda-feira (28) o julgamento de Elize Matsunaga, que matou o empresário Marcos Matsunaga, herdeiro do grupo Yoki, na noite de 19 maio de 2012. O júri se reúne no Fórum da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo.

    Por volta das 11h20, começou o sorteio dos jurados –que são os juízes de fato, em um júri popular, já que o juiz escalado aplica apenas a pena. Houve uma pequena demora para o início do júri por conta do tipo de roupas que Elize usaria no plenário. Segundo membros da equipe de defesa, a Promotoria queria que a moça usasse as roupas do presídio e ficasse de algemas.

    Isso, porém, não vai ocorrer porque há entendimento pelos tribunais de que isso é desfavorável ao réu. Por isso, Elize está no plenário com um terninho preto e sem algemas. Ela chorou por alguns instantes no começo do julgamento.

    O júri de Elize é de maioria feminina –são quatro mulheres e três homens. Para a defesa, um júri feminino pode ajudar, mas é importante a seleção de pessoas que possam entender argumentos técnicos.

    COMO É O JÚRI

    No júri popular, são convocados no mínimo 25 jurados, dos quais 7 formarão o conselho que dará a sentença (escolhidos sob sorteio).

    Os jurados têm uma hora para ler informações sobre o processo e então são ouvidas as testemunhas de acusação (entre elas o irmão de Marcos), as de defesa e as comuns –são 22 no total, incluindo policiais e peritos. Após essas oitivas, a ré é interrogada.

    Rogério Pagnan/Folhapress
    Início do julgamento de Elize Matsunaga (sentada à esquerda da mesa)
    Início do julgamento de Elize Matsunaga (sentada à esquerda da mesa), no Fórum da Barra Funda

    Então têm início os debates, com as falas de acusação e defesa (ambas com uma hora e meia de duração) e possibilidade de réplica e tréplica (de uma hora cada).

    Após os debates, o conselho se reúne com o juiz, promotor e advogados para a votação, que determinará o veredito a ser anunciado pelo juiz no plenário. A expectativa é que o julgamento dure ao menos três dias.

    Elize busca uma pena branda no julgamento desta semana. Ré confessa, Elize –completa 35 nesta terça (29)– está presa desde 2012 em Tremembé (interior de SP). Ela é bacharel em direito, ex-enfermeira e ex-garota de programa.

    O crime ganhou notoriedade na época não apenas por envolver o empresário, mas pela forma como sua mulher tentou ocultar o cadáver. Após efetuar um disparo na têmpora da vítima, ela dividiu o corpo em seis partes (diz ter usado uma faca de cozinha), colou-os em malas de viagem (dentro de sacos de lixo) e livrou-se deles numa mata em Caucaia do Alto (na Grande São Paulo).

    Ela afirma que agiu no calor de uma das muitas discussões do casal e que foi agredida por ele com um tapa no rosto. Como houve confissão do crime, a tentativa da defesa será tentar afastar as três qualificadoras do homicídio (motivos para agravar a pena) pelas quais ela é acusada: meio cruel (esquartejamento), sem chances de defesa e motivo torpe (teria matado por vingança e pela herança).

    Os advogados de Elize dizem haver no processo provas que afastam ao menos duas dessas qualificadoras, em especial sobre o meio cruel. Segundo a defesa, quando houve o esquartejamento a vítima já estava morta. A Promotoria sustenta que ele ainda estava vivo e, por isso, há sinais de sangue no pulmão.

    Se condenada por homicídio simples, Elize terá uma pena entre 6 e 20 de prisão. Como está presa há mais de quatro anos e não tem outros antecedentes criminais, ela poderia sair do júri com ordem de soltura por ter cumprido mais de um sexto da pena. A condenação por destruição e ocultação de cadáver, de 1 a 3 anos de prisão, não afetaria muito na contagem.

    SERRA ELÉTRICA

    Uma das babás da filha de Elize disse em depoimento na tarde desta segunda que teve conhecimento que a patroa comprou uma serra elétrica na véspera do crime. Isso indicaria uma possível premeditação da morte e esquartejamento do marido, que ocorreu entre o dia 19 e 20 de maio de 2012.

    Amonir Hercília dos Santos, que trabalhava para o casal Matsunaga aos finais de semana quinzenalmente, é filha da babá principal Mauriceia dos Santos, esta sim que acompanhava a família todos os dias e quem teria acompanhado Elize numa viagem ao Paraná.

    A testemunha disse que ouviu da mãe que, antes de voltar para o apartamento no dia 19 de maio de 2012, Elize passou numa loja de ferragens para comprar a serra. Amonir não deu detalhes do que seria feito com o equipamento. Mauriceia também falou no julgamento desta tarde.

    A resposta sobre a serra foi dada após questionamento do advogado Luz Flávio D'Urso, assistente da acusação. Questionado pela Folha, no intervalo dos trabalhos, o advogado indicou que essa versão da serra deve ser muita usada pela acusação. "Essa questão da serra elétrica me parece uma questão que vai ser objeto de apreciação bastante intensa da nossa parte. Até porque, outras testemunhas falam dessa serra elétrica", disse.

    Até agora, a versão usado no caso é que Elize tenha usado uma faca de cozinha para cortar parte do marido. A Promotoria disse, na semana passada, que não está muito claro qual instrumento foi utilizado, mas, há suspeita até uso de bisturi cirúrgico para isso.

    Os advogados de Elize afirmaram que a compra da serra elétrica atendeu a um pedido da própria vítima que trabalha com algumas caixas de madeira em sua adega. "Tanto claro que essa história de serra elétrica não tem o menor cabimento, que o crime não é premeditado, que ela não usou a serra elétrica", disse Luciano de Freitas Santoro.

    A babá também disse que foi recebida por Elize de pijamas por volta das 6h do dia 20, momento em que a acusação acredita que ocorria o esquartejamento. Assim, a suspeita que ela tenha se trocado de roupas para atender Amonir para não chamar atenção e, depois, voltou a se trocar para terminar os cortes.

    Elize chegou chorar durante o interrogatório quando a babá ouviu dela que demonstrava ser uma boa mãe, sempre preocupada com a filha. Na sequência, foram ouvidos a babá Mauriceia e o detetive William Coelho.

    Ao término do depoimento dos dois, o juiz interrompeu a sessão às 19h10, dizendo que as falas dos delegados e peritos ainda tomaria muito tempo. O julgamento será retomando às 9h desta terça-feira (28). Ainda faltam 16 testemunhas para serem ouvidas.

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