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    Defesa de Elize Matsunaga diz que houve quebra de regra e quer novo júri

    ROGÉRIO PAGNAN
    DE SÃO PAULO

    01/12/2016 14h52 - Atualizado às 22h24

    Suamy Beydoun/AGIF/Folhapress
    SAO PAULO - SP - 24/11/2016 - Elize Matsunaga sentada ao lado dos seus advogados de defesa aguardando o inicio do julgamento no Forum Criminal da Barra Funda em São Paulo, Foto: Suamy Beydoun/AGIF *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
    Elize Matsunaga (esquerda) sentada ao lado dos seus advogados de defesa no Fórum da Barra Funda

    Os advogados de defesa de Elize Matsunaga estudam pedir a anulação do julgamento, que ocorre desde a última segunda (28), pelo desrespeito a regras da condução do júri: foi violada a incomunicabilidade de testemunhas.

    Esse pedido pode ser feito ainda nesta sexta (2) ou, após declarado o resultado do júri. Uma das dessas violações foi identificada na manhã desta quinta-feira (1°) durante o depoimento do médico legista Carlos Alberto de Souza Coelho, que falava sobre a análise do corpo da vítima, o empresário Marcos Matsunaga, que foi assassinato em maio de 2012.

    Quase no final das perguntas da acusação, Coelho disse ter falado "agora" com o também perito Jorge Pereira de Oliveira do porque de ter feito o laudo com anexos, e não um único laudo. Nesse momento, a advogada Roselle Soglio pediu, "pela ordem", que a frase "agora" fosse explicada. Coelho, então, disse que na terça ou quarta, se reuniu com Oliveira para falar dessa questão.

    Como o artigo 460 do Código de Processo Penal prevê que as testemunhas não podem falar sobre o processo enquanto estiverem reunidas aguardando para depor, a defesa pediu a dissolução imediata do júri.

    O juiz Adilson Paukoski Simoni registrou a reclamação em ata, mas manteve a continuação do julgamento. Disse que o teor da conversa não foi prejudicial ao processo e que o laudo discutido é de conhecimento público. "Não pode haver conversa sobre o teor do processo", disse a advogada, que considerou algo "grave".

    A Folha também apurou que, também a pedido da defesa, foi constado em ata que o promotor José Carlos Cosenzo se reuniu com uma das testemunhas de acusação –o delegado Mauro Gomes Dias– já com o júri em andamento. O promotor teria alegado ao magistrado que esteve com a testemunha para saber se ela precisava de remédios, já que faz uso controlado de medicamentos.

    LEGISTA

    O médico legista Carlos Alberto Souza Coelho foi última testemunha de acusação ouvida nesta quinta no julgamento. Ele disse que o início do esquartejamento do corpo do empresário Marcos Matsunaga ocorreu com ele ainda vivo ou "minutos" após sua morte.

    A avaliação do perito contraria a alegação da bacharel de direito, e ex-garota de programa, que diz ter começado a cortar as partes do marido dez horas depois de atirar contra ele, na manhã de 20 de maio de 2012. "Não foram horas", disse o médico.

    Coelho disse, ainda, que, se Marcos tivesse sido socorrido adequadamente, teria chance de sobreviver, ainda que com graves sequelas –embora isso fosse apenas hipótese.

    Reverenciado tanto pela defesa quanto pela acusação, e considerado um dos melhores especialistas na área, as opiniões do médico pareceram ter causado forte impacto nos jurados, que fizeram 34 perguntas técnicas a ele.

    As declarações do médico foram, ao mesmo tempo, contrárias e favoráveis a Elize. Ele falou sobre o momento do corte do pescoço, durante o esquartejamento da vítima, afirmação que pesou contra a ré.

    De favorável a Elize, o médico disse que, mesmo que o esquartejamento tenha ocorrido em vida, é possível que Marcos já estivesse em coma profundo. "Acredito que não sofreu dor", declarou. Esse detalhe pode influenciar uma das principais qualificadoras que pensam contra a ré: se não houve sofrimento, o crime pode não ser considerado cruel.

    Segundo o médico, ainda, o disparo da arma de fogo contra a vítima ocorreu a curta distância (entre 40 cm ou 50 cm) e não é possível afirmar com certeza o trajeto do projétil no crânio. As duas afirmações abrandam a situação de Elize.

    Coelho disse também que a ré pode ter agido sozinha na fragmentação do corpo. A acusação afirmava que o corpo da vítima possuía tipo de cortes diferentes e, assim, mais uma pessoa teria participado do esquartejamento.

    EMPREGADA

    A empregada doméstica Neuza Goveia da Silva, que trabalhava na casa de Elize na época do crime, disse que dias antes do crime percebeu a patroa triste –muitas vezes, com lágrimas nos olhos– e presenciou ao menos duas brigas. Foi o último depoimento no quarto dia de julgamento.

    Em uma discussão, Goveia declarou que presenciou o marido xingando a família da ré. "Ele disse que o pai dela era um vagabundo", disse a mulher, que havia começado a trabalhar no apartamento do casal em 8 maio de 2012 (o crime foi no dia 19).

    A empregada doméstica disse que não questionava os motivos das lágrimas da patroa. "Eu não sou de muito de conversar com os patrões", disse ela.

    Ela também relatou ter ouvido Marcos dar um soco na mesa de jantar em uma discussão.

    Arrolada pela defesa, Goveia disse que não encontrou uma única gota de sangue na casa quando a limpou na segunda (o esquartejamento foi no domingo) ou, também, em qualquer peça de roupa da patroa. A única coisa que deu falta na casa foi panos de chão que desapareceram.

    Goveia, porém, não notou a ausência de nenhuma faca da cozinha. Elize disse ter usado o utensílio para cortar partes do marido e depois tê-lo jogado fora.

    A empregada também declarou que não tinha visto nenhuma serra elétrica nova. A única existente já estava no apartamento (de cor vermelha) antes da viagem de Elize ao Paraná.

    A compra de serra elétrica é apontada pela acusação como prova da premeditação do crime, já que ocorreu no mesmo dia do assassinato, embora nenhum dos legistas ouvidos tenha apontado a utilização desse tipo de instrumento nos cortes.

    A tia materna de Elize, Roseli de Araújo também foi ouvida na tarde desta quinta. Ela falou da infância de abono de Elize pelos pais e da violência sexual causada pelo padrasto, quando era adolescente, motivo que a levou a fugir de casa –e ficar desaparecida por cerca de um mês.

    Roseli também contou aos jurados que a família de Marcos não permite mais que ela possa ver a filha de Elize, que já tem cinco anos. A tia disse que viu a criança pela última vez na época em que a família Matsunaga realizou teste de DNA para confirmar se Marcos era pai da criança.

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