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    Antônio Modesto da Silveira (1927-2016)

    Mortes: O advogado dos perseguidos pela ditadura

    WILLIAN VIEIRA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    03/12/2016 00h00

    Divulgação
    Antônio Modesto da Silveira (1927-2016)
    Antônio Modesto da Silveira (1927-2016)

    Enquanto madrugava para carpir, filho de sem-terra que era, conduzir o carro-de-boi ou quebrar pedras em Uberaba (MG), o menino Modesto divisava um futuro distinto. Sonhava ser advogado, ajudar os pobres, fazer a diferença. "Nasci com meus direitos humanos inexistentes ou violados sempre", disse certa vez. "Era o caminho natural." Mas como suporia uma ditadura futura?

    No Rio, para onde migrou, trabalhou na marinha mercante e se formou advogado, em 1962. No dia 1º de abril de 1964, estava num comício na Cinelândia quando viu os tanques do Exército nas ruas. No dia seguinte, batia à porta do Dops com uma lista de nomes –seriam os primeiros presos e desaparecidos políticos que defenderia em mais de meio século de carreira.

    Com seus óculos grandes e voz mansa, fazia advocacia de guerrilha. Se sabia de um preso machucado, ia até o hospital militar identificá-lo, para impedir que desaparecesse. "Para ele, o direito era um sacerdócio", diz o presidente da OAB-RJ, Felipe Santa Cruz –filiado, não saía sem o broche.

    Foram "21 anos de luta jurídica, sofrimento, sangue e morte", diria anos depois, até que a ditadura soçobrasse. Ele próprio fora preso no DOI-CODI após o AI-2. Mas seu foco eram os outros. Eleito deputado pelo MDB, em 1978, com campanha das famílias de desaparecidos e apoio de toda a esquerda, articulou a Lei de Anistia -foi à tribuna do Congresso de cadeira de rodas.

    Participou da instalação da Comissão da Verdade. Se havia luta digna, lá estaria, perorando em defesa da democracia. Morreu dia 22, aos 89, de câncer. Deixou três filhas e um legado indelével: entrou para a história como "o advogado que mais defendeu presos políticos no Brasil".

    coluna.obituario@grupofolha.com.br

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