• Cotidiano

    Sunday, 05-May-2024 09:03:40 -03

    Litoral paulista enfrenta disparada de roubos; alta supera capital e Estado

    LEANDRO MACHADO
    ENVIADO ESPECIAL A CARAGUATATUBA (SP)

    04/12/2016 02h00

    Anoitecia em Caraguatatuba, cidade do litoral norte de São Paulo, no último dia 15, feriado nacional. Dois homens pararam um carro em frente a uma casa de veraneio na orla da praia. O imóvel estava vazio. Pularam o muro e entraram. Roubaram quase tudo, até os lençóis.

    Só deixaram um eletrodoméstico por uma trapalhada. "Ouvi um estrondo. Os ladrões deixaram o micro-ondas cair na calçada. Ficaram com medo e fugiram", diz Adilson dos Santos, 34, funcionário de um quiosque na frente da casa.

    O estabelecimento, diante da praia, está reforçando portas e instalando alarmes para evitar furtos –foi alvo de quatro assaltos nos últimos anos.

    Caraguatatuba é só uma das cidades litorâneas que tiveram aumento de roubos e furtos neste ano. Tanto municípios do litoral norte quanto os do sul registraram altas superiores às da capital e Estado, apontam dados da Secretaria da Segurança Pública.

    Caraguatatuba tem um dos piores cenários: os roubos cresceram 54% de janeiro a outubro em relação ao mesmo período do ano passado. Na capital paulista, a alta foi de 4%. No Estado, 6%. Já os furtos na cidade litorânea aumentaram 39%, ante alta de 3% na capital e 4% no Estado.

    Na última década, Caraguatatuba passou por um boom populacional após a Petrobras instalar uma unidade de exploração do pré-sal. Para policiais, esse fator contribuiu para aumentar os crimes.

    Os turistas que visitam a cidade também sofrem. Em julho, a cabeleireira Rose de Almeida, 54, teve de brigar com um ladrão que queria levar seu celular, na praia. "Meu celular estava na mesa. O rapaz passou e tentou pegá-lo. Consegui puxar o aparelho e ele fugiu correndo", conta.

    Ela tem casa na cidade há 35 anos e, há dois meses, instalou cercas elétricas e colocou todos os pertences do imóvel no seguro.

    VIOLÊNCIA NO LITORAL - Praias de SP registram aumento no número de roubos

    EFETIVO

    Policiais civis do litoral norte reclamam de falta de efetivo para registrar e investigar os crimes na região. Por falta de delegados durante a noite, a delegacia de Caraguatatuba fica responsável por apurar delitos de outras cidades litorâneas, como São Sebastião e Ilhabela.

    Para produzir boletins de ocorrência, os agentes precisam ouvir os depoimentos das vítimas ou de pessoas detidas por meio de videoconferências. "Se não for assim, as pessoas terão de se deslocar por quilômetros para vir aqui", diz um policial civil.

    Ao lado, a cidade de São Sebastião, que tem praias badaladas, como Juquehy e Maresias, também teve crescimento de roubos: 39%. Em Ubatuba, a alta foi de 22%.

    No litoral sul, o cenário parece menos dramático. Santos e Mongaguá tiveram redução de assaltos e furtos. Por outro lado, houve alta de roubos em São Vicente (25%), Bertioga (22%), Itanhaém (18%) e Peruíbe (17%).

    Guarujá também diminuiu esses delitos, mas registrou 59% mais roubos de carros do que no ano passado –de 150 para 239 crimes.

    TURISTAS

    Ocupações com moradias precárias, falta de serviços públicos e população flutuante de turistas são apontados por especialistas em segurança e pela polícia como as principais causas do aumento da violência no litoral do Estado de São Paulo.

    Para Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a região pode sofrer uma explosão de crimes neste verão, quando vai receber milhões de turistas.

    Caraguatatuba, no litoral norte, por exemplo, tem população residente estimada em 115 mil pessoas. Em finais de semana do verão, esse número pode saltar para 600 mil, segundo a polícia. O cenário de praias lotadas é um atrativo para furtos e roubos.

    "O litoral passa por um grande processo de ocupações com moradias e serviços públicos precários. Há ainda uma população flutuante de turistas e também escassez de efetivo policial. Tudo isso aliado à crise econômica e ao desemprego, que podem estimular o crime", explica.

    O coronel da PM Ricardo Ferreira de Jesus, responsável pelo policiamento da Baixada Santista, concorda. "Muita gente leva o celular para a praia. Essa molecada do crime se aproveita para roubar, eles são ligeiros nas pernas e com a bicicleta", diz.

    "Aqui, as ocupações irregulares representam um território muito maior que em outros pontos do Estado. Essas pessoas vivem em alta vulnerabilidade social, o que potencializa a possibilidade de adolescentes se tornarem criminosos", avalia.

    No entanto, ele diz que em toda a região do litoral sul, sem contar os dados de cada município individualmente, os crimes contra o patrimônio subiram apenas 2,8%.

    OPERAÇÃO VERÃO

    A pasta da Segurança Pública, da gestão Geraldo Alckmin (PSDB), afirmou que 2.702 policiais militares recém-formados serão enviados para cidades do litoral paulista a partir de 19 de dezembro, quando começa a chamada Operação Verão.

    Eles farão o policiamento na orla das praias, usando bicicletas, motos e até carrinhos de golfe. Segundo a secretaria, os PMs também ficarão nas principais estradas de ligação ao litoral.

    A operação vai durar até o dia 5 de fevereiro de 2017.

    Estatísticas da violência

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024