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    Variedade de diversões infantis vira dilema de pais durante férias escolares

    FERNANDA MENA
    DE SÃO PAULO

    22/12/2016 02h00

    Vencida a questão logística das férias escolares, ou seja, quem fica com as crianças e onde, muitos pais enfrentam novo dilema: o que fazer com elas na cidade?

    Contornar o apelo da tríade TV, videogame e shopping, além da tentação de abarrotar a agenda dos filhos com atividades ao longo do dia, requer não criatividade mas um retorno à simplicidade do brincar, apontam especialistas.

    "A criança contemporânea que mora na cidade grande e vai pra escola desde cedo precisa de tempo e espaço para ser criança", explica a diretora pedagógica Josiane Pareja, da escola Ateliê Carambola. "O brincar é a linguagem genuína da infância e nasce do ócio e da observação. É o desejo da criança em ação."

    Para a psicóloga e colunista da Folha Rosely Sayão, "as crianças são muito dirigidas o tempo todo". "São poucas que conseguem, no meio de tantos comandos, descobrir o que gostam de fazer. Períodos de tédio e ócio permitem criação e encontro consigo."

    Segundo Josiane, para isso, é importante evitar espaços estressantes e cansativos. "Produzir um cantinho dentro de casa, com plantas e materialidades naturais para a criança explorar, promove um ambiente calmo, simples e seguro para o brincar. Não precisa de mirabolância."

    De acordo com a pesquisa "A visão da sociedade sobre o desenvolvimento da primeira infância", do Instituto Maria Cecília Souto Vidigal e do Ibope, 81% dos pais brasileiros não sabem que brincar é importante para o desenvolvimento da criança.

    "Nossa missão é conscientizar adultos sobre a importância do brincar e dar soluções práticas para que as crianças brinquem mais", diz Patrícia Marinho, criadora do blog "Tempojuntos" e autora do livro "100 Brincadeiras Incríveis para Fazer com seus Filhos em Qualquer Lugar". "Muita gente, de fato, não tem repertório de brincadeiras e, durante as férias, se vê diante de um problema."

    No blog e no livro, ela cria propostas de brincadeiras com materiais simples, como copos descartáveis, fitas crepe, Tupperwares e outros objetos não estruturados, como parte dos materiais recicláveis que iriam para o lixo.

    ESTAR JUNTO

    "Para mim, as férias das crianças são o momento mais esperado do ano", diz a assessora Cristina Guimarães, mãe de Antônio, 8, Miguel, 6 e João, 5. "Trabalho em casa e tiro férias com eles. Devolvo eles para a escola, no final de janeiro, triste porque queria que as férias continuassem."

    O fisioterapeuta Alexandre De Maior também consegue se planejar para estar durante as férias com o filho Eduardo, 11. "Sempre quis participar do desenvolvimento dele, e as férias são a grande oportunidade de termos mais tempo juntos. Quem não quer ou não consegue flexibilizar a agenda, perde esse tempo de estar junto."

    Cristina diz notar certo desespero em outros pais com a chegada das férias. "Muita gente tem comportamento padrão de só ir a shopping ou ao cinema, o que se torna repetitivo muito rapidamente."

    No primeiro dia do recesso escolar, ela e os filhos fazem juntos um planejamento do que eles querem realizar no período. A programação é escrita em uma cartolina, que é colada na parede da sala. "Meu desafio é deixá-los o menor tempo possível na TV ou com eletrônicos", diz.

    Com sua "tropa", como diz, Cristina usa a primeira semana de férias para colocar em dia dentista, oculista e pediatra. Depois, procura programas sem custo na cidade, como certas sessões de cinema e dias em museus. Em casa, faz pintura no azulejo do box do banheiro, arrumação das fantasias e dos brinquedos, e bolos. "Cada dia que passa é um dia vencido."

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