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    Folha Verão

    Casas flutuantes atraem turistas e pescadores a represa no interior de SP

    MARCELO TOLEDO
    JOEL SILVA
    ENVIADOS ESPECIAIS A GUARACI (SP)

    27/12/2016 02h00

    Parece miragem, mas a visão que se tem ao chegar às margens da represa de Marimbondo, em Guaraci, na região de Barretos (SP), é real. Cada vez mais real.

    Autênticas casas flutuantes têm sido construídas em meio à represa, com dormitórios, cozinha, sala, banheiro e varanda para pesca, e se transformaram em refúgios para pescadores e turistas no interior de São Paulo, a 459 km da capital.

    Mais simples, algumas têm apenas dormitórios. Elas convivem com estruturas mais comuns até do que barcos na represa, os batelões -tablados de madeira que boiam.

    CONDOMÍNIO

    O fenômeno das casas flutuantes, segundo proprietários e pescadores, começou a se intensificar nos últimos três anos, e tende a crescer.

    "Quando fiz a minha, só havia mais uma, fui um dos precursores. Ela tem dois cômodos e uma área grande no meio, comporta oito pessoas dormindo", afirma Antonio Delomodarme, o Niquinha (PT do B), eleito vereador
    em Olímpia, município vizinho a Guaraci.

    Quatro casas completas já foram erguidas apenas num braço da represa -uma foi incendiada numa briga. Elas são utilizadas especialmente nos finais de semana.

    Também presidente do Olímpia, time de futebol da cidade, Niquinha diz que investiu R$ 60 mil na construção da residência flutuante. Ali, há freezer, fogão industrial e comum e gerador.

    "Daria para erguer uma casa num rancho em Guaraci, mas a gente gosta da represa, da pesca."

    Ranchos em bairros da cidade como o Riviera foram comercializados nos últimos meses por valores inferiores a R$ 200 mil, conforme corretores e proprietários.

    A base das casas fluviais são tambores plásticos, vazios, com capacidade para 200 litros cada. Presos, eles servem para que peças de madeira sejam colocadas, como pisos do "imóvel aquático".

    Além de possuir extintor, as casas têm de ter seguro e documento da Marinha para permanecer na represa.

    Elas podem tanto ficar paradas, graças às poitas -objetos pesados que funcionam como âncoras-, como ser deslocadas caso seus donos busquem locais mais adequados para a pesca.

    Berço do "condomínio flutuante" do interior de São Paulo, a represa de Marimbondo está com 54,4% de seu volume útil, de acordo com o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).

    Ainda que longe de estar cheia, atrai turistas para esportes náuticos e pesca, mesmo em dias úteis. Numa sexta-feira de manhã, a reportagem contabilizou ao menos 50 batelões em um trecho.

    O movimento contrasta com o cenário da seca histórica de 2014. Em fevereiro daquele ano, o nível do reservatório de Marimbondo caiu para apenas 16%.

    Pescador profissional e dono de batelões para locação, Luiz Roberto Magalhães, 58, construiu uma das casas flutuantes mais simples, numa área de aproximadamente 20 metros quadrados.

    Ali, há um dormitório com camas, no centro, e áreas livres para pesca nas quatro laterais. O local é utilizado como área de descanso por pescadores que passam o dia todo dentro do rio.

    PIRACEMA

    Nem mesmo a piracema, época de reprodução de peixes em que a pesca de algumas espécies é proibida por lei, tem impedido os turistas de procurar essa nova modalidade de conforto para a atividade na represa.

    "Não gosto de alugar nesta época, é preciso respeitar a natureza. Só alugo quando a pessoa se compromete realmente a não pescar espécies proibidas, como piau, pacu e pintado", diz a pescadora Maria das Graças Tirola.

    O aluguel de um batelão de 14 metros quadrados custa em média R$ 70 por dia, segundo ela, e há fila de espera. "Principalmente após o fim da piracema [termina em 28 de fevereiro], todos os dias eles estão alugados."

    As casas aquáticas são apontadas como seguras por pescadores, pois um eventual ladrão precisaria de barco para chegar ao meio da represa. Além disso, teria dificuldade para transportar eletrodomésticos e móveis.

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