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    Gonçalo Gonçalves (1935-2016)

    Mortes: Meia-armador brioso contra o Apartheid

    WILLIAN VIEIRA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    01/01/2017 00h00

    Quem visse o pequeno Gonçalito atrás do balcão do bar Paulista, no centro de Santos, a poucos metros do museu Pelé –com seu cabelo branco, voz macia e olhar no horizonte–, não poderia imaginar que seu futebol tivesse ajudado o Brasil, tão negro e desigual, a se posicionar pela primeira vez contra o apartheid na África do Sul.

    Era 1959. Após 13 dias de navio, aceito o convite para um tour na África, a Portuguesa Santista ganhava um jogo após o outro. Até que chegaram à Cidade do Cabo e seus três jogadores negros foram impedidos de desembarcar. Os anfitriões exigiam um time só de brancos. Eles se negaram.

    Dias depois, saberiam que o próprio presidente Juscelino Kubitschek os proibia de entrar em campo assim: o racismo era "inadmissível". E assim o Brasil assumia a vanguarda mundial na condenação ao apartheid.

    Após 15 vitórias em campo –e o ganho simbólico na diplomacia–, a Briosa desembarcou em Santos ovacionada e levou a Fita Azul pela campanha invicta no exterior, maior glória de sua história.

    Gonçalito também atraiu atenção. Meia-armador "impossível de marcar", como diz o irmão, Francisco, que "deu até no rodapé do Pelé", jogou por São Paulo (na inauguração do Morumbi, vitoriosa), Fluminense e Santos. Até desistir de tudo aos 29.

    "O Flamengo o queria, mas exigiu que não aprontasse mais." Genioso, mandou tudo pelos ares, como fizera com o curso de engenharia e o judô: era faixa-preta.

    Acabou no bar do irmão. Passava o dia na praia, a noite no balcão. Morreu aos 81, de falência renal. Deixou quatro filhos, duas netas e um legado driblado pelo tempo –só lembrado no recorte de jornal de 1959 que guardava.

    coluna.obituario@grupofolha.com.br

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