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    Wednesday, 01-May-2024 17:11:47 -03

    Homem armado invade casa, mata ex-mulher, filho e mais dez em Campinas

    VENCESLAU BORLINA FILHO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CAMPINAS
    PATRICIA PAMPLONA
    ENVIADA ESPECIAL A CAMPINAS
    DHIEGO MAIA
    DE SÃO PAULO

    01/01/2017 08h05 - Atualizado às 15h15

    Uma festa de família para a celebração do Réveillon terminou em tragédia dentro de uma casa em Campinas, no interior de São Paulo. Um homem invadiu o imóvel, localizado no Jardim Aurélia, bairro de classe média da cidade, e matou a tiros a ex-mulher, o filho de 8 anos e outras dez pessoas que estavam no local.

    Segundo a Polícia Militar, o técnico de laboratório Sidnei de Araújo, 46, se matou na sequência com um tiro disparado de uma pistola 9 mm contra a própria cabeça. As demais vitimas morreram com tiros na região do peito e das costas. Foram baleadas 15 pessoas de três famílias que estavam na casa para comemorar a virada do ano.

    Das quatro vítimas que foram resgatadas com vida da casa, uma morreu no Hospital das Clínicas da Unicamp e outras três permaneciam internadas neste domingo (1º) em outras unidades hospitalares. O estado de saúde dos sobreviventes é estável.

    Outras três pessoas saíram ilesas da chacina –duas se esconderam em banheiros da casa, e a terceira, identificada como Aparecida Maria de Oliveira Batista, foi poupada pelo atirador. Ela segurava um bebê no colo e teria ouvido de Sidnei que "ela nunca havia feito nada contra ele", segundo informou a polícia.

    Denny Cesare/Codigo19/Folhapress
    Corpo de uma das 12 vítimas de chacina é retirado de casa em Campinas
    Corpo de uma das 12 vítimas de chacina é retirado de casa em Campinas

    CRIME

    Chacina em Campinas

    O crime ocorreu no final da noite deste sábado (31), faltando poucos minutos para a virada do ano. O atirador chegou de carro, pulou o muro da casa e começou a atirar.

    O alvo principal era Isamara Filier, 41, sua ex-mulher, que também foi atingida e morta pelos disparos. Ela estava separada de Sidnei, que não aceitava o fim do casamento, há cerca de três anos. Parentes do técnico de laboratório dizem que ele se queixava de não poder ver o filho.

    A dona da casa onde ocorria a festa de Réveillon era tia de Isamara e também morreu.

    Um adolescente de 17 anos que saiu ileso da chacina detalhou em depoimento à polícia como o crime ocorreu. Ele disse que pensou, no início, que o barulho dos tiros era de fogos de artifício.

    Só percebeu que seus parentes estavam sendo mortos quando viu um tio caído no chão. Ele perdeu a avó e a mãe na chacina. O pai dele seguia hospitalizado em Campinas.

    Escondido no banheiro, o adolescente conseguiu acionar a polícia por telefone e ouviu Sidnei ameaçar Isamara antes de matá-la. "Vou te matar. Você tirou meu filho", disse Sidnei, segundo relato da testemunha.

    O jovem de 17 anos também ouviu o desespero do filho do atirador diante da mãe que acabara de morrer: "Você matou a mamãe." Depois disso, complementou o adolescente em depoimento, dois tiros foram ouvidos –possivelmente os disparos que mataram o menino de 8 anos.

    Ele ainda informou à polícia que o atirador travava uma batalha na Justiça pela guarda do filho. A separação do casal, segundo a testemunha, teria sido motivada por uma suspeita de que o atirador "havia abusado sexualmente do próprio filho".

    Além da pistola 9 mm, com um cartucho reserva, Sidnei carregava dez artefatos explosivos, que foram retirados da casa pelo Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais, da PM). Sidnei também deixou um áudio em um gravador onde se desculpava de "algo que poderia acontecer", além de insultar a ex-mulher. Anos atrás, Sidnei chegou a ter um bar próximo da casa onde houve o crime em Campinas, mas que acabou fechado e demolido para a construção de um prédio.

    Os corpos das vítimas foram retirados do local ainda na madrugada deste domingo e levados para o IML (Instituto Médico Legal). A previsão é que os corpos sejam enterrados no cemitério da Saudade, em Campinas.

    ATIRADOR APARENTAVA SER DÓCIL, DIZ VIZINHO

    Araújo morava sozinho em um apartamento de um condomínio de classe média baixa, próximo à rodovia Anhanguera, desde que se separou da mulher.

    Um vizinho, que pediu para não ser identificado, afirmou que Araújo aparentava ser dócil e tranquilo, e que algumas vezes falou do filho e de um porquinho da Índia que havia dado para a criança.

    "Até agora não consigo acreditar que tudo isso tenha acontecido. Ele era uma pessoa super legal, de bem com a vida. Se preocupava em não fazer barulho no prédio e tinha amigos em um bar da cidade", disse o vizinho.

    Vizinhos da casa onde aconteceu o crime, no Jardim Magnólia, também ressaltaram o estilo de vida amigável e tranquilo de Araújo, e se disseram chocados com a quantidade de mortos registrado.

    "Ele era um bom homem, mas agora virou o contrário. Tudo o que a gente disser não vai mais adiantar. Talvez ele estava sofrendo muito", afirmou um homem, que pediu para não ser identificado.

    Em nota, o CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais), onde Sidnei trabalhava, confirmou que o técnico fazia parte de seu quadro de funcionários e lamentou o ocorrido. Na nota, o centro afirma que está em contato com os familiares do ex-colaborador para prestar auxílio. A Folha não conseguiu falar com nenhum familiar de Araújo.

    Nas redes sociais, o presidente Michel Temer (PMDB) lamentou o episódio e manifestou pesar pelas vítimas da chacina. "Nós lamentamos profundamente as mortes ocorridas em Campinas. Que 2017 seja um ano de mais paz", escreveu.

    *

    VEJA LISTA DE MORTOS

    1) Isamara Filier, 41. Ex-mulher do atirador, com quem tinha um filho, o garoto João Victor Filier de Araujo, 8.

    2) João Victor Filier de Araujo, 8. Era filho de Sidnei e Isamara

    3) Rafael Filier, 33. Era irmão de Isamara

    4) Liliane Ferreira Donato, 44. Estava na festa com a irmã, a mãe, as tias e a prima

    5) Alessandra Ferreira de Freitas, 40. Era irmã de Liliane.

    6) Antonia Dalva Ferreira de Freitas, 62. Era mãe de Liliane e de Alessandra

    7) Abadia das Graças Ferreira, 56. Era irmã de Antonia de Freitas.

    8) Ana Luzia Ferreira, 52. Era irmã de Antônia de Freitas e Abadia

    9) Larissa Ferreira de Almeida, 24. Era filha de Ana Luzia

    10) Luzia Maia Ferreira, 85. Era mãe de Antonia de Freitas, Abadia e Ana, e avó de Liliane, Alessandra e Larissa

    11) Paulo de Almeida, 61

    12) Carolina de Oliveira Batista, 26. Era filha do casal Aparecida Maria de Oliveira Batista e Luiz João Batista. Aparecida saiu ilesa da chacina. Já Luiz foi atingido pelos disparos e segue hospitalizado em Campinas

    Colaborou SANDRA CAPOMACCIO, de SÃO PAULO

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