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    Massacre em presídios

    Prisão alvo de matança em Manaus foi considerada 'péssima' em inspeção

    DHIEGO MAIA
    DE SÃO PAULO

    02/01/2017 14h14 - Atualizado às 17h29

    Presos sem assistência jurídica, educacional, social e de saúde. Um sistema classificado como "péssimo" para qualquer tentativa de ressocialização.

    Foi esse o diagnóstico elaborado durante inspeção em outubro do ano passado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) no presídio Anísio Jobim, de Manaus, a maior unidade prisional do Amazonas e que, nas últimas 17 horas, foi palco da maior matança desde o massacre do Carandiru, em 1992. No total, 56 presos foram mortos.

    Esse número, segundo o governo do Amazonas, pode subir, já que a polícia ainda não terminou a contagem oficial de mortos, feridos e fugitivos.

    Massacre em Manaus
    Fachada da penitenciária Anísio Jobim, em Manaus

    A unidade também não conta com aparelhos para detectar a entrada de metais nem equipamentos para bloquear sinal de celular. As revistas para a entrada de visitantes são feitas por 94 agentes penitenciários que se revezam entre três turnos.

    Em 2014, um vídeo obtido pela Folha mostrou que a unidade é uma terra sem lei. Na época, uma dezena de presos foi flagrada em um vídeo que circulou pelas redes sociais na chamada "fila do pó". O pó consumido era cocaína.

    Edmar Barros/Futura Press/Folhapress
    Parentes aguardam informações na entrada do Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus
    Parentes aguardam informações na entrada do Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus

    A livre circulação de drogas na penitenciária é uma rotina "comum", segundo a associação dos agentes penitenciários terceirizados.

    O Anísio Jobim também carrega um problema comum ao sistema prisional brasileiro: a superlotação. Segundo o próprio governo do Estado, são 1.224 homens presos por lá, o triplo da capacidade (de 454 vagas).

    PRESOS x VAGAS - O presídio Compaj é dividido em três unidades, todas superlotadas

    FACÇÕES CRIMINOSAS

    Presos provisórios, ainda segundo o CNJ, também dividem celas com detentos já condenados. Esse quadro é propício para a insurgência de facções criminosas, que passaram a atuar dentro da unidade.

    Segundo as investigações, partiu da facção Família do Norte a ordem para abater membros do rival PCC (Primeiro Comando da Capital). Entre todas as vítimas, morreram mais membros do PCC, de acordo com a pasta da segurança pública do Estado.

    A atuação da Família do Norte no comando do tráfico de drogas no Amazonas desestabilizou a reeleição, em 2014, do governador José Melo de Oliveira (PROS). Um áudio vazado mostrou o subsecretário de segurança, na época, negociando apoio eleitoral com um líder da Família do Norte que estava preso no Anísio Jobim.

    O então subsecretário Carliomar Brandão foi exonerado do cargo e disse que a conversa que ele teve com o detento foi manipulada.

    Editoria de arte/Editoria de arte/Folhapress
    Onde fica o Complexo Penitenciário Anísio Jobim
    Onde fica o Complexo Penitenciário Anísio Jobim

    Para o governo do Amazonas, a meta será restabelecer a ordem na penitenciária. Segundo o governador, serão investidos parte dos R$ 44,7 milhões de repasse que o Fundo Penitenciário do Amazonas recebeu do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen), na última quinta-feira (29), para colocar a unidade de pé.

    Em entrevista à imprensa, Sérgio Fontes, secretário de Segurança Pública do Amazonas, disse que o controle de facções em presídios não é um problema exclusivo do Amazonas. "Esse foi mais um capítulo da guerra silenciosa e impiedosa do narcotráfico que está espalhado por todo o país", afirmou.

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