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    Massacre em presídios

    Metade dos mortos em penitenciárias de Manaus foi decapitada, diz IML

    RUBENS VALENTE
    ENVIADO ESPECIAL A MANAUS

    03/01/2017 20h02 - Atualizado às 23h11

    A polícia científica de Manaus (AM) informou nesta terça-feira (3) que metade dos mortos nas duas penitenciárias da cidade entre domingo e segunda-feira foi decapitada.

    A situação dos corpos dificulta um trabalho mais rápido e apenas 39 haviam sido identificados até o final da tarde desta terça-feira, segundo o diretor do DPTC (Departamento de Polícia Técnica Científica), Jeferson Mendes, após dois dias de exames. As famílias aguardam em frente ao IML (Instituto Médico Legal) a liberação dos corpos.

    Massacre em Manaus
    Fachada da penitenciária Anísio Jobim, em Manaus

    "Nós temos os mais diversos estágios de dilacerações nos corpos", disse Mendes. O diretor disse que a condição dos corpos afetou até mesmo os profissionais que realizaram os exames. "É algo chocante, porque [os funcionários] nunca viram da forma como os corpos se apresentam. Mas são pessoas preparadas."

    Apesar da violência, parte das decapitações aconteceu apenas depois da morte dos presos.

    Dos 60 corpos –56 no Compaj e quatro na UPP (Unidade Prisional de Puraquequara)– encaminhados ao IML desde o último domingo após as chacinas nos presídios, nove foram liberados às famílias.

    Os corpos liberados são de: Raijean da Encarnação Medeiros, Arthur Gomes Peres Júnior, Magaiver Vieira Rodrigues, Dheick da Silva Castro, Francisco Pereira Pessoa Filho, Rafael Moreira da Silva, Erraison Ramos de Miranda, Lucas Alves de Souza e Rafael Moreira da Silva.

    A presidente do sindicato dos peritos oficiais do Estado do Amazonas, Fernanda Versiani, que tem 188 filiados, informou à Folha que pelo menos nove outros detentos, além dos 30 decapitados, morreram carbonizados. O número não foi confirmado por Mendes, que entretanto não forneceu o número oficial.

    Fernanda disse que há apenas um IML com seis mesas de necropsia para atender todo o Amazonas, o que seria inadequado para as necessidades do Estado.

    Os corpos ainda não identificados são mantidos em um caminhão frigorífico que foi cedido às pressas por outro órgão do governo. "Não é uma estrutura ideal [do IML], precisamos melhorar, mas nenhum Estado brasileiro estaria pronto para atender uma demanda como essa", disse Mendes.

    O diretor do DPTC disse que o governo deverá instalar nesta quarta-feira (4) um centro de "atendimento humanizado" para as famílias dos mortos.

    "As famílias não precisam ficar nesse sol, nesse sofrimento. Vamos trabalhar para que elas tenham essas informações sem estar expostos a essas intempéries do tempo e sofrendo", disse o diretor.

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