• Cotidiano

    Thursday, 02-May-2024 11:28:57 -03

    Massacre em presídios

    Para 'evitar nova tragédia', juiz manda esvaziar presídio inteiro em Roraima

    RUBENS VALENTE
    ENVIADO ESPECIAL A BOA VISTA

    08/01/2017 19h01 - Atualizado às 20h43

    Marlene Bergamo/Folhapress
    Centro de Progressão Penitenciária, em Boa Vista, reservado aos presos em regime semiaberto
    Centro de Progressão Penitenciária, em Boa Vista, reservado aos presos em regime semiaberto

    Afirmando haver risco de "uma nova tragédia no sistema penitenciário", o juiz da vara de execuções penais de Boa Vista (RR) determinou nesta sábado o esvaziamento de um presídio inteiro, que serve para abrigar, durante a noite, cerca de 160 detentos em regime semiaberto. Ele acolheu um pedido da própria direção do CPP (Centro de Progressão Penitenciária) do governo do Estado.

    Com a decisão, assinada pelo juiz Marcelo Lima de Oliveira e pela juíza plantonista Suelen Márcia Silva Alves, os presos passaram neste domingo (8) a uma espécie de prisão domiciliar no período noturno. Antes da decisão, os presos podiam trabalhar durante o dia, mas deviam dormir no CPP.

    Eles agora estão obrigados a ficar em suas casas a partir das 20h, não mudar de endereço, não portar "armas ou instrumentos que possam ser utilizados como armas" e não frequentar bares, entre outras medidas.

    O juiz afirmou à Folha neste domingo que a medida foi tomada "em regime de emergência", com validade até a próxima sexta-feira (13) e deverá ser reavaliada ao longo da semana após entendimentos com o governo estadual.

    "É uma medida muito pensada, de dois juízes, é muito drástica, mas se precisava fazer. Havia informes de que o presídio seria o próximo palco de violências. Foi feito antes que aconteça uma nova tragédia", disse o juiz.

    Segundo Oliveira, desde outubro o CPP "vem sofrendo uma série de inseguranças, não possui muralhas, é um prédio antigo que nunca passou por reforma verdadeira". No último dia 28, Sebastião Simão Neto, 21, foi morto a tiros quando deixava a sede do CPP para ir ao trabalho.

    O pedido de esvaziamento do presídio partiu do próprio diretor do estabelecimento, Wlisses Freitas da Silva, e foi apoiado pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). O diretor disse que no último dia 6, após a chacina de 33 detentos em outra penitenciária, a Pamc (Penitenciária Agrícola de Monte Cristo), no CPP familiares e detentos, alguns dos quais ex-policiais, "estavam todos apavorados" e diziam que o local "seria alvo da próxima tragédia".

    "Este estabelecimento prisional passa por momentos tensos e de grande apreensão por conta dos últimos acontecimentos", escreveu Silva ao juiz.

    No ofício, Silva também chama a atenção para "o baixo efetivo dos servidores", com apenas "três ou quatro" agentes penitenciários para tomar conta de 160 detentos e outras centenas de internos albergados que comparecem ao local para assinar livro de frequência. "Ou seja, um fluxo de quase 500 pessoas. O que fica inviável prestar segurança".

    CEMITÉRIO

    O cemitério Campo da Saudade, em Boa Vista (RR), recebeu neste domingo os primeiros 14 dos 33 corpos chacina de sexta-feira na Pamc (Penitenciária Agrícola de Monte Cristo). Para os sepultamentos, a famílias tiveram que pagar em média R$ 1 mil cada uma pelas covas. Além disso, serão cobrados R$ 165 anuais, por um prazo de cinco anos, para a manutenção do túmulo.

    A direção do cemitério afirmou que o governo ficou responsável pelos custos nas funerárias.

    O primeiro a ser sepultado, às 10h, foi o corpo de Nilson Sales Souza, 32, que cumpria pena sob acusação de roubo e tráfico de drogas. Segundo os familiares, Souza foi três vezes casado e era pai de seis crianças com três com idades entre 13 e seis anos.

    O irmão de Souza, Antonio, disse que ele não era ligado a nenhuma facção criminosa e havia uma precisão de que deixasse o presídio em abril, após cumprir mais de cinco anos de pena.

    Em nota à Folha, o governo de Roraima disse que ainda está analisando se vai indenizar as famílias dos mortos na chacina, mas disse que cumprirá decisões judiciais nesse sentido. O governo foi indagado qual era sua parte nos custos dos sepultamentos.

    "O governo de Roraima informa que, por meio da Setrabes [secretaria da área social], tem mantido contato permanente com as famílias dos presos mortos na Penitenciária Agrícola Monte Cristo, no sentido de atender às necessidades mais prementes. Com relação aos processos de indenizações, o governo ainda está avaliando. A prioridade agora é a identificação dos corpos, a entrega para as famílias e a contenção da crise. O governo também esclarece que cumprirá qualquer deliberação judicial a respeito do tema", informou o governo.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024