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    Ministério investiga aumento de casos de febre amarela em MG e alerta OMS

    NATÁLIA CANCIAN
    DE BRASÍLIA

    09/01/2017 18h39 - Atualizado às 21h21

    O Ministério da Saúde anunciou nesta segunda-feira (9) que irá enviar equipes para investigar um aumento de prováveis casos de febre amarela em municípios do interior de Minas Gerais. Os casos também motivaram um alerta à OMS (Organização Mundial de Saúde) e ações de reforço na vacinação nestes locais.

    Em pouco mais de uma semana, 23 casos suspeitos de febre amarela silvestre foram notificados em dez cidades do interior do Estado, com 14 mortes registradas.

    Do total de casos suspeitos, 16 tiveram resultado positivo para febre amarela nos primeiros exames, de acordo com a secretaria estadual de saúde. Agora, os casos, considerados como "prováveis", devem passar por novas investigações para analisar a possibilidade de outras doenças e histórico de vacinação dos pacientes.

    Os dados divulgados nesta segunda reforçaram a preocupação de autoridades de saúde diante de um possível aumento de casos suspeitos de febre amarela em algumas cidades do interior da região Sudeste. Na última semana, uma morte foi confirmada para febre amarela no interior do Estado de São Paulo, ocorrida no dia 26 de dezembro.

    Em comum, todos os pacientes eram da área rural dos municípios, locais onde há circulação do vírus. "Na investigação inicial, são pessoas que não têm histórico de deslocamento para outras regiões e são a grande maioria aposentados ou agricultores", afirma o subsecretário de vigilância e proteção à saúde de Minas Gerais, Rodrigo Said.

    Segundo ele, até o momento, não há transmissão em área urbana. No Brasil, a febre amarela urbana, que é transmitida por meio do mosquito Aedes aegypti, não é registrada desde 1942.

    Há, no entanto, casos de febre amarela silvestre, que ocorrem em áreas rurais e de mata por meio de um ciclo que envolve primatas não humanos, como macacos, e mosquitos como o Haemagogus -que, por sua vez, podem transmitir o vírus a pessoas não vacinadas e que circulam nessas regiões.

    No ano passado, houve seis casos confirmados de febre amarela silvestre, segundo dados do Ministério da Saúde. A suspeita de um possível surto fez com que o Ministério enviasse uma notificação à OMS. A medida segue recomendação do Regulamento Sanitário Internacional, que prevê que todas as ocorrências importantes à saúde pública sejam informadas e monitoradas.

    REFORÇO NA VACINAÇÃO

    Além da investigação dos casos, as duas equipes técnicas do Ministério da Saúde devem auxiliar os profissionais de saúde do Estado e municípios de Minas em medidas de controle da doença.

    As ações incluem vacinação casa a casa nas áreas onde há registro de casos, principalmente na área rural. Pessoas que nunca receberam a vacina devem receber duas doses, com intervalo de um mês cada.

    Em seguida, serão vacinados moradores de municípios vizinhos. Ao todo, a pasta irá encaminhar 285 mil doses extras para as ações.

    Para as crianças destes locais, a vacinação deve ser antecipada para os seis meses de idade –em geral, a imunização é aplicada a partir dos nove meses. Em novembro, cidades do interior de São Paulo também decidiram antecipar a vacinação de bebês e iniciaram ações para evitar o risco de proliferação da febre amarela após mortes de macacos com a doença. Houve duas mortes em humanos por febre amarela silvestre.

    Após a última delas, no fim de dezembro, o ministério decidiu reforçar no país a recomendação para que todas as pessoas que moram ou devem viajar para áreas silvestres, rurais ou de mata verifiquem se estão vacinadas contra a febre amarela ou se há doses em atraso. Em geral, há um período de dez dias após a vacinação para que ela seja efetiva.

    'ALERTA'

    Segundo o virologista Pedro Vasconcelos, diretor do Instituto Evandro Chagas, laboratório referência na área e que dá apoio na investigação, o aumento de casos prováveis da doença neste ano preocupa. Em um dos fatores, pela época em que ocorrem: em geral, os meses de dezembro a maio são o período de maior risco de transmissão da febre amarela silvestre, tanto pelas chuvas quanto pela época de viagens. "No verão, as pessoas vão muito à mata para pescar ou fazer ecoturismo. Tem que estar com a vacina em dia", afirma.

    Outro fator é a elevada infestação de Aedes aegypti no país, mosquito que pode transmitir o vírus caso ele volte à área urbana -nos últimos anos, só houve casos da febre amarela silvestre.

    "O risco de reurbanização sempre aumenta quando há aumento dos casos notificados. Felizmente temos a vacina e a maior parte da população é vacinada", diz ele, que recomenda vigilância também em locais onde a vacina não é recomendada.

    De acordo com Vasconcelos, a doença preocupa pela elevada letalidade -cerca de 45%. "É uma doença bifásica. Na fase inicial, de três a cinco dias, o paciente tem febre, dor de cabeça, dores no corpo, cansaço, perda de apetite, náuseas e vômitos", relata o virologista. Já nas formas graves, podem ocorrer icterícia (coloração amarelada da pele), hemorragias e insuficiência renal. "Esses três fatores, somados, podem levar à morte do paciente", afirma.

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