• Cotidiano

    Sunday, 05-May-2024 08:38:16 -03

    Massacre em presídios

    ANÁLISE

    Atuação federal no problema prisional é tímida e desarticulada

    FERNANDA MENA
    DE SÃO PAULO

    10/01/2017 02h00

    Niels Andreas - 2.out.1992/Folhapress
    SÃO PAULO, SP, BRASIL, 02-10-1992: Massacre do Carandiru: corredor alagado de sangue no pavilhão da Casa de Detenção de São Paulo, após a intervenção da Polícia Militar do Estado de São Paulo para conter uma rebelião, em São Paulo (SP). A rebelião teve início com uma briga de presos no Pavilhão 9 da Casa de Detenção. A intervenção da Polícia Militar, liderada pelo coronel Ubiratan Guimarães, tinha como justificativa acalmar a rebelião no local. Sobreviventes afirmam que o número de mortos é superior ao divulgado e que os policiais atiraram em detentos que já haviam se rendido ou que estavam se escondendo em suas celas. Nenhum dos 68 policiais envolvidos no massacre foi morto. A promotoria do julgamento do coronel Ubiratan classificou a intervenção como sendo "desastrosa e mal-preparada". (Foto: Niels Andreas/Folhapress)
    Corredor alagado de sangue no pavilhão da Casa de Detenção de São Paulo, após intervenção da PM

    É tímida e desarticulada a atuação federal nos históricos problemas do sistema prisional brasileiro, cujo cotidiano está centralizado nas unidades federativas, tanto do ponto de vista do processo penal como da administração penitenciária.

    Enquanto as facções criminosas eram problemas locais, o papel coadjuvante da União não chamava a atenção, e cada Estado que cuidasse do próprio quintal.

    A partir do momento em que a atuação de grupos como PCC (Primeiro Comando da Capital) e Comando Vermelho avançou em escala nacional, dentro e fora dos presídios, a resposta do Estado precisa subir na esfera de poder e se articular entre Executivo e Judiciário.

    O anúncio de medidas requentadas por parte do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, e da formação de um grupo de trabalho pela ministra Cármen Lúcia, à frente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), dá ideia de como a União está desacostumada ao papel de protagonista nessa área.

    Especialistas das mais variadas vertentes convergem na avaliação de que a construção de penitenciárias não é solução única para o problema e, ainda assim, tem efeitos a médio prazo.

    EMERGÊNCIA

    Eles também são unânimes ao dizer que, como medida de emergência, é preciso retirar das prisões pessoas que não precisariam ser mantidas em ambientes controlados por facções criminosas.

    O CNJ tem realizado desde 2008 uma série de mutirões carcerários, por meio dos quais 45 mil pessoas foram postas em liberdade porque já haviam cumprido a pena à qual haviam sido condenadas, mas ainda eram mantidas no cárcere.

    O Brasil tem média de 40% de presos provisórios, ou seja, que ainda não foram julgados. Pesquisas mostram que, quando julgados, metade desses presos será considerada inocente. Basta uma conta de padaria para perceber que cerca de 20% dos presos atuais do país são inocentes vivendo no inferno.

    Como disse, de forma direta, Fiona Macaulay, especialista britânica em sistema prisional e Justiça criminal e professora do principal centro mundial em estudos de paz: "Tirem essas pessoas de lá!".

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024