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    Rio de Janeiro

    Ônibus na zona sul do Rio volta a ser depredado e rendido para arrastão

    NATÁLIA ALBERTONI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

    12/01/2017 16h20

    Reprodução/Video
    Jovem depreda ônibus na zona sul do Rio de Janeiro
    Jovem depreda ônibus na zona sul do Rio de Janeiro

    Na última quarta-feira (11), gritos abafados atraíram moradores às janelas e varandas dos prédios que ladeiam o cruzamento das avenidas Prado Júnior e Nossa Senhora de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro. À distância, o burburinho soava como uma briga de casal que havia saído do controle, porém, tratava-se de mais um arrastão a bordo de um ônibus da linha 474, que liga Copacabana a Jacaré, uma das comunidades mais violentas da capital fluminense.

    "Isso aqui é todo dia. É revoltante. A polícia enxuga gelo", diz a dona de casa Luciana Fontenele, 46, que observou o episódio de perto. Marcelo Costa, 49, o motorista do ônibus, explica a já conhecida rotina: "Eles agem em bandos. São homens, mulheres, adolescentes e até crianças, que são usadas como escudo. Abordam o ônibus no posto 6 (Copacabana) e rendem o motorista mesmo se não estiverem armados, já que são em muitos. Uma vez no veículo, descem e sobem fazendo arrastão pelas calçadas. Seguem assim até o fim da linha, em Jacaré. Sabe-se lá o que ia acontecer. Levaram meu celular e minha mochila, que consegui recuperar".

    Vândalos depredam ônibus da linha 474

    Marcelo trabalha nessa rota há apenas cinco meses, mas em razão das condições de segurança já havia solicitado a mudança de linha para a empresa de transporte (Braso Lisboa) mais de uma vez. O pedido não foi atendido e nesta semana viu a expectativa se tornar realidade. "Só uma pessoa havia pagado a passagem, coitado. O resto estava roubando, inclusive as mulheres", conta. Ele estima que cerca de 70 pessoas ocupavam o veículo quando a polícia militar o abordou e solicitou que parasse o carro.

    A Polícia Militar cercou o veículo na pista central da avenida Nossa Senhora de Copacabana por volta das 18h. As pessoas que ocupavam o ônibus, na maioria homens jovens, tentaram fugir quebrando o vidro das janelas laterais ou abrindo as duas portas de segurança do teto. Ainda que alguns tenham escapado, 41 foram detidos por policiais do 19º batalhão e conduzidos para a delegacia.

    Por meio da assessoria de imprensa, a PM informa que os batalhões responsáveis pelo patrulhamento dos bairros e do Grupamento de Policiamento Transportado em Ônibus Urbano realiza operações de abordagem e revista em ônibus para coibir roubos, furtos e depredações. As ações são feitas no dia a dia seguindo um planejamento operacional.

    Além desta ocorrência em Copacabana, na terça (10), o 2º batalhão apreendeu um homem e três menores nas proximidades da rua Pinheiro Machado e do viaduto Jardel Filho, em Laranjeiras, após praticarem roubos e furtos em ponto de ônibus da via.

    Apesar dos assaltos serem mais frequentes no verão, quando a cidade está lotada de turistas, o problema da linha 474 é recorrente e tem sido sinalizada pela mídia e moradores. Para Rumba Gabriel, presidente da Associação Centro Social Quilombo Urbano Jacaré, essa é uma tragédia anunciada. "Infelizmente, a mídia não está exagerando. É uma realidade trágica. Uma tragédia anunciada, já que quando surgiram os primeiros incidentes, falei pessoalmente com o governador Luiz Fernando Pezão diante de várias lideranças de favelas em uma reunião que aconteceu no Palácio Guanabara no final de 2015", lembra.

    Segundo ele, os participantes dos arrastões são oriundos principalmente das favelas de Jacarezinho, Mangueira, Tuiti, Rato (Dois de Maio) e Arará. Rumba, que é uma das principais lideranças da comunidade, conta ainda que naquela época foi feita uma enquete na comunidade e a maioria entrevistada concordava com a paralização do 474 até o governo garantir a segurança dos usuários. "Nesse ínterim, os usuários procurariam outras alternativas. O que estamos assistindo é que o governo se encontra omisso e a segurança é extremamente incapaz de garantir a segurança", diz.

    A prefeitura do Rio disse por meio de sua assessoria de imprensa que a linha será mantida, pois serve à população como um todo e que esta não pode ser prejudicada por uma minoria. Questionada sobre providências a serem tomadas para solucionar a questão, o órgão reforça que segurança pública é responsabilidade do Governo do Estado, mas que, ainda assim, o prefeito recém-eleito Marcelo Crivela determinou que a Guarda Municipal atue em apoio à polícia para coibir pequenos delitos.

    Na terça (10), por exemplo, a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop) criou o Plano de Prevenção contra Pequenos Delitos e Arrastões nas Praias da Cidade do Rio de Janeiro, a ser desenvolvido em conjunto com as forças de segurança do Estado do Rio, para a redução da criminalidade. O planejamento da Guarda Municipal se estenderá às praias, a seus acessos, pontos de ônibus, às saídas do metrô e às ruas do entorno, com o objetivo de garantir maior segurança à população. Não há, porém, nenhuma especificação sobre a linha 474.

    "Volta tudo ao normal. Até acontecer de novo", alerta a dona de casa Luciana Fontenele.

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