• Cotidiano

    Thursday, 02-May-2024 08:54:35 -03

    Adolescente morto em SP registrou homofobia em ocorrência contra tio

    VENCESLAU BORLINA FILHO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE CAMPINAS

    12/01/2017 17h14 - Atualizado às 18h23

    Reprodução/Facebook
    A gerente Tatiana Lozano Pereira confessou ter matado o filho de 19 anos em Cravinhos
    A gerente Tatiana Lozano Pereira confessou ter matado o filho de 17 anos em Cravinhos

    O jovem morto no interior de SP cuja mãe confessou o crime, segundo a polícia, relatou, em um boletim de ocorrência, que era constantemente chamado de "veado desgraçado" por um tio materno. Esse tio, pelo registro, o ameaçou de agressão física.

    Itaberly Lozano Rosa, 17, registrou uma ocorrência na Polícia Civil de Cravinhos (a 292 km de São Paulo) em março de 2015, no qual relata que sofria diversas ameaças violentas do homem. O delegado Eduardo Librandi Junior diz não acreditar em crime por homofobia.

    Segundo a polícia, o jovem foi morto a golpes de faca no dia 29 de dezembro de 2016. O corpo foi encontrado carbonizado em um canavial na semana passada. A mãe assumiu a autoria do crime, de acordo com os policiais, alegando ter se desentendido com o filho.

    Na confissão, a mãe do jovem disse não ter nada contra o filho ser homossexual. O que Tatiana reprovava, segundo a confissão, era que o filho levasse outros homens para casa e o fato de ele ser usuário de drogas, segundo ela –ela diz já ter visto ele "inalar algo parecido com cocaína". De acordo com ela, Itaberly ignorava a recomendação, dizendo que "quem mandava lá [casa] era ele".

    Em uma das ameaças registradas, a vítima afirmou que o tio, de 33 anos, teria dito que o atacaria com uma faca por ser homossexual. Itaberly se dizia privado de sair de casa, porque toda vez que encontrava o tio, era chamado de "veado desgraçado", além de sofrer com as ameaças.

    Um dos casos teria sido presenciado pela mãe do jovem, Tatiana Ferreira Lozano, 32. Ela teria ido buscá-lo numa festa, por ser menor de idade, e teve que sair de forma violenta com o carro. O tio, segundo relato da vítima no boletim, afirmava que iria pegá-lo e que não adiantaria a mãe ir buscar o adolescente.

    À Folha o delegado que apura o crime afirmou não ver elementos que justifiquem um crime de homofobia. "Pra caracterizar homofobia, a pessoa tem que que agredir o outro pelo o que ela é, não pelo o que ela faz".

    Apesar do registro do boletim de ocorrência, o caso foi arquivado, segundo a Polícia Civil. Isso porque para o crime de ameaça, além de registro de BO, é necessário que a vítima represente criminalmente a pessoa suspeita, o que não foi feito com o tio materno da vítima.

    O tio paterno do adolescente, Dário Rosa, à Folha, questiona a alegação de Tatiana, de que o sobrinho era usuário de drogas. Ele afirma que Itaberly trabalhava no mesmo supermercado que a mãe, na função de empacotador, e que era "um menino educado, trabalhava e que gostava de andar sempre bem arrumado". Ele diz, ainda, acreditar que a afirmação da mãe é uma estratégia de defesa para tentar diminuir a própria pena, e que cogita até acioná-la na Justiça se manter as declarações sobre o sobrinho, que considera falsas.

    Ativistas preparam um protesto neste sábado (14) em São Paulo, na estação Dom Pedro II do metrô, mesmo local em que um homem foi espancado até a morte no fim do ano após defender duas travestis de agressores.

    'MÃE NÃO ACEITAVA FILHO GAY'

    Para o tio, a homofobia foi um dos motivos para a morte do sobrinho. "Acho que tem mais motivos para a morte. Sempre quando eles brigavam [mãe e filho], ele vinha para a nossa casa. Ela não aceitava essa situação dele [homossexual]. Ela queria se afastar dele", disse à reportagem.

    Segundo o delegado, Tatiana justificou o assassinato do próprio filho em razão das ameaças sofridas por ela e o filho de quatro anos. Ela dizia ter medo que o jovem pudesse causar algum mal a ela e o filho menor. Após o crime, afirmou ter entrado em desespero, não acreditando no que tinha feito.

    O jovem foi morto com três golpes de faca no pescoço. A arma estava escondida no quarto dele pela própria mãe. Uma hora após a primeira discussão, ela entrou no quarto e perguntou se ele estava pensando em algo. Em seguida, deu uma gravata no filho e aplicou as facadas no pescoço.

    Após uma hora e meia do crime, Tatiana disse ter acordado o marido, Alex Canteli Pereira, 30, pedindo ajuda para descartar o corpo. Foi quando ela teve a ideia de levá-lo até um canavial e atear fogo. Os dois enrolaram o corpo em um edredon e atearam fogo com a gasolina do veículo

    Foram expedidos mandados de prisão temporária contra Tatiana, presa na Cadeia Feminina de Cajuru, e Pereira, que foi encaminhado para a cadeia de Santa Rosa de Viterbo. Os dois foram indiciados pela Polícia Civil por homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáver.

    A reportagem não conseguiu localizar o advogado de defesa de Tatiana Lozano nem do irmão dela, Carlos Alberto Lozano, citado no boletim de ocorrência.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024