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    Massacre em presídios

    Presos desafiam facções rivais com gritos de guerra em presídio do RN

    LEANDRO MACHADO
    AVENER PRADO
    ENVIADOS ESPECIAIS A NATAL (RN)

    16/01/2017 13h36

    "Uh, é sindicato. Uh, é sindicato", gritam cerca de 30 presos em cima dos telhados do presídio de Alcaçuz, na zona metropolitana de Natal.

    Com os rostos à mostra ou cobertos, com pedaços de paus e bandeiras nas mãos, os presos fazem gritos de guerra de suas facções criminosas.

    Dois dias depois do massacre que matou 26 detentos, os presos "viraram" a cadeia novamente. O grupo que grita "Sindicato" está na ala 1, que é comandada pela facção criminosa Sindicato do Crime.

    Andressa Anholete/AFP
    Em novo motim, detentos sobem em telhados na penitenciária de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte
    Em novo motim, detentos sobem em telhados na penitenciária de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte

    Em cima dos telhados da ala 5, do outro lado da cadeia, estão presos ligados ao PCC. Do lado de fora, parentes temem outra chacina. O medo é que aconteça um confronto entre as duas facções.

    Policiais armados com fuzis estão nas guaritas do presídio. Também circulam pelo entorno da detenção.

    Durante a manhã, agentes penitenciários chegaram a jogar bombas de gás dentro presídio.

    Por volta das 11h30, dezenas de policiais do GOE (Grupo de Operações Especiais) entraram na detenção. No momento, eles ocupam o pátio.

    "A prioridade agora é evitar outra carnificina, como a de ontem. A informação que temos é que os presos do PCC estão livre lá dentro. Há um grande risco da chacina se repetir", afirmou Gabriel Bulhões, da comissão de advogados criminalista da OAB. Ele acompanha a situação do lado de fora.

    Na parte externa do presídio, não há representantes do governo.

    Parentes dos presos fazem orações periódicas. Francisco Ferreira (nome fictício), 60, tentava reconhecer o filho entre os presos que estavam no telhado. "Não estou conseguindo enxergar", dizia ele, chorando.

    MASSACRE EM ALCAÇUZ

    Motim na penitenciária de Alcaçuz deixou 26 presos mortos neste fim de semana, segundo contagem do governo. A rebelião foi motivada por uma briga nos pavilhões 4 e 5 do presídio envolvendo as facções PCC e Sindicato do Crime. Segundo o governo, todos os mortos são ligados ao Sindicato do Crime. Houve uma invasão de um pavilhão por presos inimigos, o que deu início ao motim.

    A matança é mais um capítulo da crise penitenciária no país: é o terceiro massacre em presídios em apenas 15 dias. No total, 134 detentos já foram assassinados somente neste ano, 36% do total do ano passado, quando 372 presos foram mortos.

    O trabalho de identificação dos corpos começará nesta segunda e deve seguir por 30 dias, diz o governo –em Roraima, onde um motim deixou 33 mortos no dia 6, o governo demorou pouco mais de um dia para divulgar uma lista com os nomes de 31 vítimas. Dois dos presos mortos no Rio Grande do Norte foram carbonizados e todos os outros foram decapitados.

    Segundo o diretor do Itep (Instituto Técnico Científico de Perícia), Marcos Brandão, não há marcas aparentes de perfuração por balas nos corpos, apenas por instrumentos cortantes –ainda é preciso fazer necropsia nos corpos para identificar as causas de morte. Agentes encontraram dentro do presídio uma pistola caseira, de um cano feita manualmente, e granadas não letais, que não foram usadas, segundo o governo.

    MORTES EM PRESÍDIOS

    Com mais essas 26 mortes, o número de assassinatos em presídios pelo país chega a 134 casos nas primeiras duas semanas do ano. As mortes já equivalem a mais de 36% do total registrado em todo ano passado. Em 2016, foram ao menos 372 assassinatos –média de uma morte a cada dia nas penitenciárias do país. O Estado do Amazonas lidera o número de mortes em presídios com 67 assassinatos, seguido por Roraima (33).

    No dia 1° de janeiro, um massacre no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj) deixou deixa 56 mortos em Manaus (AM), após motim que durou 17 horas. No dia seguinte, mais quatro detentos morrem na Unidade Prisional de Puraquequara (UPP), também em Manaus.

    Seis dias depois, uma rebelião na cadeia de Raimundo Vidal Pessoa deixou quatro mortos. Logo em seguida, três corpos foram encontrados em mata ao lado do Compaj. Com isso, subiu para 67 o total de presos mortos no Amazonas.

    No dia 4 de janeiro, dois presos são mortos em rebelião na Penitenciária Romero Nóbrega, em Patos, no Sertão da Paraíba. Dois dias depois, 33 presos são mortos na maior prisão de Roraima, a Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista.

    Na tarde de quinta (12), dois detentos foram mortos na Casa de Custódia, conhecida como Cadeião, em Maceió (AL). O presídio, destinado a abrigar presos provisórios, fica dentro do Complexo Penitenciário, em Maceió (AL). Jonathan Marques Tavares e Alexsandro Neves Breno estavam nos módulos 1 e 2 da cadeia, respectivamente.

    No mesmo dia, dois presos foram mortos em São Paulo, na Penitenciária de Tupi Paulista (a 561 km da capital paulista). A Secretaria da Administração Penitenciária informou que eles morreram durante uma briga em uma das celas.

    Neste domingo (15), uma fuga na Penitenciária Estadual de Piraquara, no Paraná, deixou dois mortos. Um grupo explodiu, pelo lado de fora, um muro da penitenciária, que concentra membros da facção PCC (Primeiro Comando da Capital), segundo agentes penitenciários ouvidos pela Folha.

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