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    Líder do MTST nega violência e afirma que prisão em reintegração foi política

    ARTUR RODRIGUES
    DE SÃO PAULO

    18/01/2017 02h00

    O coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, nega ter cometido ou incitado atos violentos e diz que o movimento foi à invasão buscar uma saída negociada e pacífica.

    Em entrevista, ele afirma ainda que o policial responsável por sua detenção citou a participação dele em protesto diante da casa do presidente Michel Temer (PMDB).

    *

    Folha - Por que você foi detido pela polícia?
    Guilherme Boulos - É uma prisão política. Alegaram incitação à violência. Eles despejam 700 famílias com violência, e eu que incitei a violência. É uma prisão descabida. Atribuíram a mim coisas que não aconteceram.

    O que atribuíram?
    Incitação à violência, agressão, desobediência. O MTST foi lá garantir o direito das pessoas que estavam sendo despejadas. Buscar uma saída negociada e pacífica. A Tropa de Choque avançou, jogou bombas e querem encontrar um culpado.

    Em nota, o governo diz que foram atirados rojões.
    A polícia entrou numa comunidade onde moravam 700 pessoas até de manhã, moravam lá há um ano e meio. As casas [estavam] consolidadas, com tudo que tinham. Entrou com três blindados, com jato d'água, com bomba de gás lacrimogêneo, bomba de estilhaço, bala de borracha. Ou seja, o problema são algumas pessoas que tentaram minimamente resistir a isso? É uma inversão completa de valores. Parece que houve um policial ferido e mais de dez pessoas da comunidade feridas.

    Você ou alguém do movimento participou dessa tentativa de resistência?
    Isso não ocorreu, é uma mentira deslavada. Uma ação política, leviana e sem o menor fundamento.

    A policia citou outros protestos como razão da prisão?
    Quando o capitão da Tropa de Choque me deteve, eu perguntei a ele o motivo, ele disse [que era] incitação à violência, outros crimes e se referiu a outras manifestações do movimento, em especial uma que ocorreu em frente à casa do [presidente] Michel Temer. Ele também comandava a Tropa de Choque naquela ocasião em que houve um conflito com o MTST.

    A sua prisão ocorreu em momento em que o secretário de Habitação do governo Geraldo Alckmin (PSDB), Rodrigo Garcia (DEM), acusou o MTST de ter sido favorecido durante a gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT). O ex-secretário de Haddad, o arquiteto João Sette Whitaker, também disse que há movimentos sem-teto de fachada criados por criminosos.
    Há no país um movimento de criminalização dos movimentos sociais. Há uma tentativa de desmoralizar os movimentos, [dizendo que] movimento quer favor, quer vantagem, descaracterizando a luta por direitos. Essa desmoralização prepara terreno para a criminalização.

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