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    Massacre em presídios

    Presos mantêm controle de prisão no RN, e polícia não sabe total de vítimas

    FERNANDA PEREIRA NEVES
    DE SÃO PAULO

    LEANDRO MACHADO
    AVENER PRADO
    ENVIADOS ESPECIAIS A NATAL

    DANILO SÁ
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE NATAL

    20/01/2017 23h08

    Nacho Doce/Reuters
    Presos voltam a circular pelos telhados e exibir armas no presídio de Alcaçuz, região metropolitana do RN
    Presos voltam a circular pelos telhados e exibir armas na prisão de Alcaçuz, região metropolitana do RN

    Sobre os telhados e exibindo facões, presos ainda mantinham o controle da penitenciária de Alcaçuz, em Nísia Floresta, região metropolitana de Natal, nesta sexta-feira (20), mesmo depois da entrada de homens do Batalhão de Choque na noite anterior.

    Apesar de não ter havido mais confrontos entre presos do PCC (Primeiro Comando da Capital) e do Sindicado do Crime do Rio Grande do Norte, os detentos circulavam livres pelo complexo, com armas e celulares. Também usaram caixa de som, microfone e violão para fazer um culto religioso. Os cânticos eram ouvidos do lado de fora.

    Mesmo com os policiais dentro do complexo, o governo Robinson Faria (PSD) afirmou ainda não ter o número de mortos e feridos nos confrontos das duas facções. A assessoria do governo disse não ter o número, que só deve ser conhecido após uma vistoria completa no presídio, o que ainda não tinha ocorrido.

    Seis feridos foram retirados da penitenciária, sendo três na noite de quinta (19) e outros três na sexta.

    Esses últimos foram içados por policiais e socorristas que aguardavam nos muros. O trabalho de colocar os detentos na maca era feito por outros detentos.

    O major Eduardo Franco, da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, negou à Folha que os presos ainda tinham o controle da penitenciária e disse que, neste primeiro momento, a prioridade era evitar novos confrontos e fugas de presos. "Existe um problema de infraestrutura. A PM vai entrar, fazer a separação e manter alguns isolados, mas agora está tudo destruído."

    No entanto, a separação das facções continuava sendo feita pelos policiais que permaneciam nas guaritas –encarregados de fazer disparos com munição não letal na hipótese de um grupo avançar em direção ao outro.

    O major disse que as vistorias e buscas por armas e munições no presídio serão o próximo passo dos policias militares que já estão na unidade, mas não informou quando isso deverá ocorrer.

    Questionado sobre o trabalho de reconstrução, o governo afirmou ainda que deve ser analisado como isso ocorrerá e se serão necessárias mais transferências. Por enquanto, 220 presos ligados ao Sindicato deixaram o local.

    EXÉRCITO

    Cerca de 650 homens do Exército chegaram a Natal nesta sexta para reforçar a segurança nas ruas da cidade, após uma série de ataques.

    Foram registradas desde quarta (18) 34 ocorrências de incêndios e princípios de incêndio contra veículos e uma delegacia, e mais quatro ataques com arma de fogo contra prédios públicos. Para a polícia, eles estão relacionadas à crise em Alcaçuz.

    Com isso, a população de Natal teve nesta sexta o terceiro dia sem transporte público. Os veículos chegaram a circular em alguns momentos, mas acabaram retornando às garagens nos últimos três dias. Táxis e ônibus escolares estavam autorizados a fazer lotação e se tornaram uma opção para a população.

    Neste sábado (21), outros 750 militares chegarão à capital potiguar e, até domingo (22), 1.846 homens do Exército no total já estarão patrulhando as ruas de Natal e região metropolitana.

    Detentos mortos em 2017

    "Não vamos admitir descontrole, não vamos admitir que venha a imperar o medo e a desordem aqui como da vez anterior", disse o ministro da Defesa, Raul Jungmann antes de se reunir com o governador Robinson Faria.

    A ação dos militares vai durar dez dias. "Não vamos substituir nenhuma função das polícias. A exceção daquelas que diz respeito a policiamento ostensivo e repressivo nas ruas, garantindo a lei e a ordem", disse o ministro.

    O ministro ainda aproveitou para alfinetar os governos estaduais, responsáveis pela manutenção do sistema carcerário. "Feita a vistoria, feita a varredura e a limpeza, que os presídios continuem limpos, livres de arma e munição, é atribuição dos governos estaduais, das suas secretarias de segurança e dos seus órgãos penitenciários."

    O governador Faria disse que tem dois novos presídios sendo construídos no Estado e um terceiro virá com dinheiro do governo federal. "Se tiver uma condição de que com esses três novos presídios, nós possamos suprimir e apagar apagar a história maldita de Alcaçuz, nós iremos acabar com Alcaçuz, disse ele ao criticar a construção da que é o maior prisão do Estado.

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