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    Massacre em presídios

    PM entra em prisão de Alcaçuz em RN para revista e usa bombas de gás

    DANILO SÁ
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE NATAL

    24/01/2017 11h19 - Atualizado às 17h28

    Desde as primeiras horas da manhã desta terça-feira (24) equipes com agentes penitenciários e policiais militares estão em Alcaçuz, penitenciária do Rio Grande do Norte que enfrenta uma rebelião de presos há 11 dias.

    Homens do Bope, Tropa de Choque e Grupo de Operações Especiais da Secretaria de Justiça e Cidadania entraram na unidade, onde utilizaram bombas de efeito moral. Os policiais acessaram todos os pavilhões da unidade.

    O objetivo da incursão é fazer uma revista minuciosa. Desde o início da rebelião, facas e celulares são vistos com os detentos.

    Os policiais ainda serão importantes para garantir segurança na conclusão de um muro de contêineres que separa os pavilhões das facções PCC e Sindicato do RN.

    A ação começou por volta das 10h, quando a Tropa de Choque entrou no presídio. No momento, os presos não circulavam pela penitenciária –estavam recolhidos em seus pavilhões. Os policiais precisaram usar bombas de efeito moral para conter os presos do pavilhão 1.

    A separação das facções rivais dentro de Alcaçuz é apenas uma das dificuldades enfrentadas pela polícia no presídio. Vencida essa etapa, contabilizar os mortes e encontrar todos os corpos também será um problema.

    É provável que partes de alguns corpos de presos mortos na rebelião que se iniciou no sábado (14) jamais sejam encontrados. Isso porque muitos foram jogados pelos demais detentos nas 40 fossas da unidade, o que tem atrapalhado o trabalho do Itep (Instituto Técnico e Científico de Perícia).

    Desde a semana passada se tenta esgotar as fossas de Alcaçuz, mas até agora foi pequeno o avanço. Além da dificuldade causada pelo tamanho da área a ser trabalhada –a primeira fossa tinha 18 m³, por exemplo–, as ações só podem ocorrer onde a Polícia Militar consegue garantir segurança para os servidores da instituição.

    PENITENCIÁRIA ESTADUAL DE ALCAÇUZMaior unidade do RN, prisão teve massacre com 26 mortos no dia 14.jan

    O próprio diretor do Itep, Marcos Brandão, admite que pedaços de alguns corpos podem ficar para sempre no subsolo de Alcaçuz.

    "São muitas fossas e de tamanhos muito grandes. Passamos um dia inteiro para esgotar somente uma delas, ainda restam 39. Então, vamos continuar o trabalho, mas sabendo que com o tempo passando fica cada vez mais difícil recuperar essas partes dos corpos", disse.

    Ainda de acordo com Brandão, a expectativa é que não tenham mais corpos nas fossas, mas sim cabeças dos presos mortos degolados. O Itep liberou 11 corpos sem os crânios para as famílias que aceitaram enterrar seus parentes dessa forma.

    Segundo o Itep, as buscas também serão feitas em fogueiras que foram feitas na penitenciária durante a rebelião. A suspeita é que pedaços de corpos humanos possam ter sido queimados pelos presos.

    Em balanço divulgado nesta terça, o governo informou que houve 42 incêndios ou tentativas de incêndio a veículos e prédios públicos desde o começo da rebelião em Alcaçuz. O Estado diz que fez 19 prisões e 298 apreensões de material ilícito desde então, todas relacionadas ao caos no sistema prisional potiguar. Só no entorno de Alcaçuz, diz o governo, foram 277 apreensões, que incluem munições de diversos calibres, sete revólveres, duas pistolas, uma arma artesanal, um colete balístico, cinco celulares e cinco pacotes de drogas.

    Presídio de Alcaçuz

    CONTROLE DOS PRESOS

    A penitenciária de Alcaçuz, a maior do Rio Grande do Norte, chega nesta terça-feira (24) ao 11º dia sob domínio dos detentos. Esta é a maior rebelião da história do sistema prisional potiguar. Até agora, 26 mortos já foram confirmados pelo Estado.

    Nesta segunda-feira (23), o governo potiguar anunciou medidas imediatas para tentar retomar o controle da unidade prisional.

    Entre as ações estão reparos nos pavilhões 2 e 3, instalação de uma cerca externa com sistema de alarme, reparo de três guaritas, implantação de um sistema de videomonitoramento e a limpeza da vegetação do entorno. Já foi iniciada a construção de uma barreira física separando as facções rivais dentro do presídio.

    Nesta terça-feira (24), os contêineres terminarão de ser colocados, concluindo assim a barreira física temporária, até que muro de concreto seja erguido, o que deve acontecer dentro de 20 dias.

    O governo confirmou ainda a chegada da Força de Intervenção Penitenciária, com 71 agentes com expertise em crise, que somarão reforços aos agentes da segurança pública estaduais e federais nas ações dentro do presídio.

    Segundo o secretário estadual de segurança, Caio Bezerra, as primeiras intervenções já serão feitas a partir desta terça e prosseguirão diariamente, até que a unidade volte ao controle do Estado, o que ainda não tem prazo para ocorrer.

    Após quatro dias sem ônibus, Natal voltou a ter transporte público nesta segunda (23), embora ainda não em sua totalidade.

    Segundo o Seturn (Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Natal), apenas 80% da frota foi colocada na rua. A alegação é que ainda falta segurança para o trabalho. Caso não voltem a ocorrer ataques, o serviço será normalizado no decorrer dos dias.

    Durante a rebelião em Alcaçuz, ônibus foram incendiados em Natal em represália a transferência de presos da penitenciária. Assim, os coletivos suspenderam o serviço durante quatro dias consecutivos, só retornando em parte, nesta segunda.

    *

    Histórico do presídio de Alcaçuz

    Set.2000 - Três detentos fogem pela porta da frente, dentro de um caminhão que fazia a entrega de leite na unidade

    Abr.2004 - Pavilhão 1 tem rebelião de dois dias e fica destruído; mulheres permaneceram dentro da cadeia, dois agentes penitenciários foram mantidos reféns e três armas foram apreendidas. Os rebelados pediam o
    fim de transferências

    Jan.2005 - Tentativa de fuga termina com quatro presos mortos; após um blackout, os detentos fugiram por um túnel, chegaram até um muro e trocaram tiros com policiais

    Jun.2010 - Rebelião que teria sido comandada por três membros do PCC deixa três feridos. Eles teriam expulsado supostos estupradores de uma das alas para realocar integrantes da facção

    Mar.2015 - Rebeliões em 13 unidades do RN provocam pânico em Natal, com ataques a ônibus e carros de polícia; celas são destruídas em Alcaçuz e em mais duas prisões, afetando mais de mil vagas

    Nov.2015 - Túnel cavado por presos desmorona, e dois ficam soterrados; a descoberta da rota resultou em rebelião dos presos, que queimaram colchões, destruíram grades e jogaram pedras na PM; foi o quinto túnel encontrado em 6 meses

    Ago.2016 - Três homens são mortos a facadas em meio a uma onda de ataques no Estado, justificada pelo governador como uma retaliação à instalação de bloqueadores de celulares em presídios

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