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    DIAS MELHORES

    Inspirado em rolezinhos da marquise, programa cultural do MAM ganha prêmios

    ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
    DE SÃO PAULO

    05/02/2017 02h00

    Um casal de skatistas, uma família com duas crianças, um garoto gay e uma moça seguram agulhas e começam a bordar.

    MCs fazem batalhas de hip-hop, B-boys dançam break, grupos discutem feminismo, violência, sexo.

    São atividades do Domingo MAM, programa criado para "canalizar positivamente", segundo os organizadores, a energia dos encontros que reúnem até 20 mil adolescentes aos domingos na marquise do parque Ibirapuera.

    O projeto foi menção honrosa do 7° Prêmio Ibero-Americanos de Educação e Museus em 2016 e ganhou o Prêmio Darcy Ribeiro - Educação em Museus no ano anterior.

    Tudo começou com a intenção de reduzir os riscos para os participantes dos rolezinhos, relata Daina Leyton, 37, coordenadora do setor educativo.

    Surgiu um programa com três linhas de ação: oficinas culturais de manhã, shows e eventos maiores à tarde e rodas de conversa com os adolescentes.

    Dar repertório para que os adolescentes manobrem bem seu "rito de passagem" é fundamental, diz Pereira, da Unifesp.

    A predisposição ao risco, a curiosidade pelo proibido e a iniciação sexual são esperados nessa idade. "O Estado vai estar sempre atrasado. Os garotos precisam é de roteiros para fazer esse caminho com consciência."

    O risco de os garotos sofrerem abusos após o excesso de álcool "é o mesmo de muitas festas universitárias", afirma Gabriel Feltran, do Cebrap.

    "É preciso que eles sejam protegidos disso pela organização do parque, pela prefeitura e pelas forças da segurança pública."

    Daina sugere iniciativas para reduzir riscos sem precisar recorrer a conflitos ou proibições. Entre elas estão a venda de alimentos saudáveis e mais água disponível. "Só isso já reduziria muito os casos de coma alcoólica."

    No rolê acompanhado pela Folha, a fila para usar o bebedouro tinha sempre mais de 15 pessoas e levava até 20 minutos.

    SEM RESPOSTAS

    Procurada desde 9 de janeiro, a gestão do prefeito João Doria (PSDB) não informou até a conclusão dessa reportagem se tem projetos ou diretrizes relacionados aos rolezinhos.

    Dados sobre a infraestrutura do Ibirapuera e sobre casos médicos e de violência pedidos ao Depave (Departamento de Parques e Áreas Verdes) não foram repassados pela prefeitura.

    No dia em que acompanhou o rolezinho, a Folha contatou administradores do parque e representantes da guarda municipal (GCM), mas eles disseram que só poderiam dar entrevista com autorização da administração municipal.

    No ano passado, quando houve dois casos de estupro no parque, a GCM informou que entre 50 mil e 70 mil pessoas ocupam o 1,6 milhão de metros quadrados do parque no horário de pico na tarde de domingo, para 51 guardas municipais.

    Nas semanas seguintes, o número de guardas foi elevado para 160.

    Educadores do MAM dizem esperar que a mudança de administração municipal não afete os eventos.

    "Temos uma boa proximidade com a gestão do parque, que espero que continue. Seria bom ver ações de política pública na área de saúde, educação e direitos humanos", diz Barbara Jimenez, educadora responsável pelo Domingo MAM.

    ELES POR ELAS

    As atividades deste ano começam no domingo de 12 de fevereiro, depois de uma pausa para obras no museu: cozinhas e banheiros foram reformados e ampliaram-se instalações acessíveis a deficientes.

    No primeiro dia haverá um campeonato de break dance —o museu tem parceria com grupos de B-boys e B-girls e vai fornecer a infraestrutura para o evento.

    No domingo seguinte, deve haver uma roda de conversa sobre questões de gênero e saúde.

    Em março, mês que costuma estar relacionado à mulher, haverá uma semana de artes e igualdade de gênero, em parceria com a ONU Mulheres, que promove o projeto Eles por Elas.

    Segundo Jimenez, o público que frequenta os eventos está na casa das dezenas, nas oficinas matinais, e dos milhares, nos eventos da tarde.

    Alguns vêm a todas as seções, outros flutuam.

    "Há muita potència nos rolezinhos, e isso precisa ser aproveitado, com segurança, saúde, alimentação, hidratação. É uma questão de respeito, não de regras e proibições."

    No projeto atuam os 6 educadores e 3 estagiários do museu, além da equipe interna.

    Além do Domingo, o MAM tem programas para famílias, visitações, contato com arte (para professores e universitários), acessibilidade (Programa Igual e Diferente) e a área de cursos pagos do museu.

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