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    'Marias' fazem linha de frente da greve de policiais militares no Espírito Santo

    CAROLINA LINHARES
    ENVIADA ESPECIAL A VITÓRIA

    08/02/2017 02h00

    De repente, começa uma correria de mulheres –Marias, como cada uma delas se identificou à Folha –em frente ao Batalhão de Missões Especiais em Vitória (ES). "Vão pular o muro!"

    Como os PMs são proibidos de realizar greves pela Constituição, seus familiares fazem a frente do movimento que bloqueia os batalhões e reivindica reajuste salarial de 65% até 2020.

    Com isso, a categoria está parada desde a última sexta (4), o que provocou uma onda de violência que resultou em dezenas de mortes, saques e mudanças no cotidiano dos moradores da Grande Vitória.

    Onda de violência no ES
    PM está em greve desde o dia 3 de fevereiro

    Na frente ao Batalhão de Missões Especiais em Vitória, algumas das Marias correm pelo lado de fora até outro ponto do prédio. Observam atentas a qualquer tentativa de saída dos policiais militares do prédio.

    Boa parte deles, na verdade, assiste ao movimento de familiares do outro lado da rua, à paisana, para dar "segurança" ao grupo.

    Na tarde desta terça-feira (7), eram cerca de 20 as mulheres, acompanhadas por quatro crianças, em frente ao portão do batalhão na capital capixaba.

    Após a correria, nova confusão: um homem passa de carro, abre a porta e diz: "Gente, precisa de mulher do outro lado, entra aí". O homem, segundo as Marias, faz parte de uma associação de militares.

    As associações, responsabilizadas pela falta de policiamento em uma decisão da Justiça do Espírito Santo, afirmam não ter relação com o movimento.

    "Elas estão bravas com as associações porque nós negociamos com o governo, mas entendíamos o lado deles, da necessidade de ajuste", disse o major Rogério Fernandes Lima, presidente da Associação dos Oficiais Militares do ES.

    Mulheres de soldados e mesmo policiais relataram à Folha o mesmo cenário de sucateamento da PM no Estado. Além da falta de reajuste salarial, reclamam da escassez de coletes à prova de balas, de munição e até mesmo de combustível para o patrulhamento.

    "A gente não tem plano de saúde, o Hospital Militar está a ponto de fechar", disse uma delas. Na 5ª Companhia do 1º Batalhão, um policial desabafa: "Nós não temos voz, ninguém dá amparo, nem a sociedade, nem o Estado". Na unidade, pinturas e reformas foram feitas por voluntários.

    "Guerreiras da PM, qual é sua missão? Defender a polícia e fechar o batalhão", cantam as Marias em meio a um buzinaço.

    O movimento começou no sábado (4) com sete mulheres na porta de uma unidade da PM em Serra, na região metropolitana. Com o WhatsApp e outras redes sociais praticamente todas as unidades das principais cidades do Estado passaram a ter acampamentos.

    As mulheres se revezam e recebem doações. Sem uma liderança clara, nenhuma delas fala em parar o movimento. "A população está sentindo o segundo dia útil sem policiamento, mas eles têm que entender que eu tenho família", diz uma das Marias.

    PM DO ESPÍRITO SANTO - Corporação está em greve desde sexta-feira

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