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    Motim da PM afeta de serviço bancário a comida em supermercado no ES

    CAROLINA LINHARES
    ENVIADA ESPECIAL A VITÓRIA
    LEONARDO HEITOR
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM VITÓRIA

    09/02/2017 02h00

    Chamado de chantagista pelo governador licenciado do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), o movimento que tirou policiais das ruas no Estado já causa problemas para os moradores comprarem alimentos, abastecerem veículos e usarem serviços bancários.

    Hartung, que passou por um procedimento endoscópico para a retirada de um tumor na bexiga na sexta (3), em São Paulo, fez nesta quarta (8) seu primeiro pronunciamento público sobre a onda de violência no Estado.

    Segundo sindicato de policiais, a paralisação de PMs resultou em 95 homicídios desde sábado, contra média anterior de 4 por dia. Houve saques, paralisação de ônibus e aulas e fechamento de lojas.

    Onda de violência no ES
    PM está em motim desde o dia 3 de fevereiro

    "É um caminho errado que rasga a Constituição, é uma chantagem", disse o governador, que recebeu recomendação dos médicos para reassumir só na semana que vem o comando do Estado –a cargo do vice, Cesar Colnago, até lá.

    Hartung classificou a ação de policiais como "grotesca" e afirmou que o direito do povo foi sequestrado. "Estão cobrando resgate, mas não se paga resgate por aspecto ético nem pelo descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal", afirmou, em referência ao pedido de reajuste salarial de 65% até 2020.

    Iniciado na sexta (3), o motim dos PMs resultou no envio de 1.200 homens do Exército e da Força Nacional ao Estado desde segunda (6).

    O governo Michel Temer disse que haverá reforço de mais 550 das Forças Armadas e de 100 da Força Nacional.

    Alguns supermercados da região metropolitana abriram as portas nesta quarta, mas sob esquema de segurança adotado por empresários e em meio a filas gigantescas e reclamações sobre falta de produtos, problemas na reposição e até brigas por itens.

    "Ontem [terça] saí e não consegui fazer compras. Lembrava a época de hiperinflação. Muita gente com quatro, cinco carrinhos, estocando comida, filas e discussões", disse o gerente comercial Nelmer Silva, 31, morador do bairro Ataíde, em Vila Velha.

    Já a estudante de direito Lessandra Paula Liberato, 39, moradora de Cariacica, disse preferir não sair de casa, mesmo com itens como alho e material de limpeza já no fim.

    "Não conseguimos comprar nada, com medo dos assaltos. A comida está acabando, mas estamos com medo e receio de procurar mercado aberto. Meu filho foi à padaria na segunda e foi ameaçado por bandidos. Em seguida, houve tiroteio na região. Até a igreja que frequento decidiu não abrir até que a situação melhore", afirmou.

    PREJUÍZO

    Presidente da Acaps (Associação Capixaba de Supermercados), João Falqueto diz que a segurança foi reforçada. "O horário variou bastante, com algumas lojas fechando entre 15h e 18h e abrindo às 8h. As lojas tiveram alguns problemas de reposição, mas não há risco de desabastecimento. Tudo isso representa um grande prejuízo à economia."

    O prejuízo com o fechamento de lojas e de shoppings desde a deflagração do movimento já atinge R$ 150 milhões, segundo José Lino Sepulcri, presidente da Fecomércio-ES. "Temos mais de 300 estabelecimentos danificados por saques e assaltos, a maioria pequenos empresários que tiveram um trabalho de 10 ou 15 anos jogados fora em um dia", afirmou.

    Também há queixas sobre a dificuldade para sacar dinheiro. A Folha encontrou caixas eletrônicos vazios, por exemplo, no aeroporto Eurico de Aguiar Salles. A situação bancária é agravada com o fechamento de agências, Correios e lotéricas.

    A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) disse que as instituições financeiras têm empenhado "esforços para prestar um atendimento de qualidade, sempre com o compromisso de preservar a segurança de seus funcionários e colaboradores".

    O Sindipostos orientou associados a pararem as atividades. "Não está sendo possível andar nas ruas com tranquilidade e muito menos operar um negócio que não tem portas, como um posto [...] Além de menos carros circulando nas ruas, houve casos de postos que não receberam produto para comercializar", diz.

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