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    Governo não sabe lidar com segurança pública, dizem mulheres de PMs do ES

    CAROLINA LINHARES
    ENVIADA ESPECIAL A VITÓRIA

    13/02/2017 12h30

    Em uma espécie de desabafo, as mulheres de policiais militares, que continuam nos portões das unidades de polícia no Espírito Santo, reclamam do governo e da perda de apoio popular desde o início do movimento.

    "A conta disso não é nossa, é desse governo que não sabe lidar com segurança pública", disse uma delas. "Não queríamos mortes e greve, lamentamos muito."

    As mulheres dizem que são chamadas de "palhaças e desocupadas", e que sofrem descriminação até no trabalho. Elas afirmam ainda que o movimento só eclodiu quando a situação dos policiais chegou ao limite, depois de sete anos de perdas salariais, segundo o movimento. "Isso está se desenhando há sete anos, só está explodindo agora", disse outra.

    A Folha conversou com seis mulheres de policiais do Batalhão de Missões Especiais (BME), uma tropa de elite da Polícia Militar. As mulheres ouvidas pela reportagem, que não quiseram se identificar, são auxiliares de serviços gerais, contadora, administradora, artesã e professora do ensino fundamental. Elas dizem ainda não ter ligações com partidos políticos.

    No domingo (12), homens do BME foram convocados a se apresentarem em uma unidade da Marinha, de onde foram de helicóptero ao batalhão, cercado por mulheres, para buscar equipamentos.

    Elas pedem diálogo com o governo Paulo Hartung (PMDB). Após uma negociação frustrada na quinta (9) com representantes das mulheres, o governo fechou um acordo com associações de policiais, mas sem elas, na sexta (10).

    "É uma encenação política de um governo autoritário. [...] Somos um movimento social, e qualquer movimento social tem sido criminalizado nesse país. Ainda mais um movimento de mulheres e ainda mais um movimento de mulheres policiais."

    Sobre as associações de policiais, que vinham negociando aumento com o governo estadual há mais de um ano sem sucesso, as mulheres dizem que foram "omissas". Afirmam ainda que perderam credibilidade depois de aceitar um acordo sem consultar o movimento delas.

    Em entrevista à Folha, Hartung afirmou que o motim tem um componente político forte para desestabilizar seu governo. Para ele, o fato tem a "mão peluda da política" para desestabilizar "um Estado que só vinha com notícia boa".

    REIVINDICAÇÕES

    As mulheres não abrem mão de dois pontos: 47% de reajuste referente aos sete anos e anistia aos policiais que participam do motim. "Não é nada utópico", diz uma delas.

    O governo, porém, afirma não haver possibilidade de reajuste por estar no limite prudencial de gastos com a folha de pagamento estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. O acordo fechado com as associações prevê que o tema seja discutido caso haja aumento de receitas.

    O acordo livra policiais que voltaram ao trabalho de punições administrativas, mas não suspende o indiciamento de 703 policiais pelo crime de revolta. O secretário de Governo Antônio Imbassahy anunciou que a base do governo no Congresso não deverá apoiar a anistia para policias do Estado que estão em greve.

    As mulheres elencam ainda outros pedidos, como melhores condições de trabalho, incluindo coletes e viaturas, além de melhoria no Hospital da Polícia Militar. O acordo do governo propõe um cronograma pera efetivar promoções previstas e ainda não cumpridas, avaliação da carga horária dos policiais e um projeto de lei para exigir bacharelado em direito no concurso para oficiais.

    As mulheres reclamam também de manipulação da mídia pelo governo e da falta do direto de resposta. Afirmam ainda que os policiais não retornaram às ruas em sua totalidade e questionam que haja mais de 3.000 homens das Forças Armadas e da Força de Segurança Nacional no Estado, como diz o governo federal.

    Segundo a Secretaria da Segurança do Espírito Santo, 1.236 policiais se apresentaram ao trabalho nos últimos dois dias. Sem farda, boa parte não chegou a reassumir o patrulhamento. O Estado tem 10 mil policiais.

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