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    ANÁLISE

    Fatores de risco em casa e ensino falho agravam gravidez precoce

    CLÁUDIA COLLUCCI
    DE SÃO PAULO

    27/02/2017 02h00

    É no lar da menina, local em que deveria haver uma rede de proteção, que se encontram os fatores de risco mais importantes para a gravidez na adolescência.

    Falta de diálogo e dificuldades de relacionamento entre pais e filhos, histórico de gravidez adolescente na família, falhas na orientação sobre sexualidade são alguns desses fatores.

    Uma revisão da literatura sobre o assunto aponta que as adolescentes possuem mais dificuldades de relacionamento com a figura paterna. Normalmente, o pai é descrito como ausente e agressivo, e as meninas temem sua reação frente a uma gravidez.

    Como efeito cascata, esses conflitos podem propiciar riscos também para a gestação. Com medo da reação da família, as jovens tendem a esconder a gravidez por mais tempo, atrasando o pré-natal.

    As meninas que engravidam antes dos 15 anos, por exemplo, têm um risco cinco vezes mais elevado de morrer por causas relacionadas à própria gravidez, ao parto e ao pós-parto do que mulheres na faixa dos 20 anos.

    Hipertensão, diabetes gestacional e síndrome metabólica estão entre as doenças que as jovens podem desenvolver durante a gestação e que poderiam ser mais bem manejadas se tivessem acesso a um pré-natal adequado.

    A literatura também indica que os filhos tendem a repetir a história reprodutiva da família. Alguns estudos demonstram, por exemplo, que as mães de muitas jovens grávidas também tiveram gravidez na adolescência.

    Todo esse caldo familiar é engrossado por uma frequente falta de orientação sobre sexualidade. Muitas vezes, por ignorarem o tema, os pais têm dificuldades de falar com os filhos sobre ele.

    Mesmo em relações familiares harmoniosas pode haver essa falta e diálogo por questões culturais, vergonha e preconceito.

    As barreiras de comunicação afetam pais e filhos. Os primeiros tendem a negar a atividade sexual dos rebentos, e estes, por sua vez, não se sentem à vontade para conversar sobre sexualidade.

    Mesmo quando há diálogo, os estudos dizem que eles são ineficazes. Normalmente vêm recheados de reprimendas de cunho moral e não são voltados para o exercício de uma vida sexual segura.

    Por todas essas razões, a escola se torna uma importante fonte de informações no campo da sexualidade e contracepção. Há estudos indicando que até 55% das jovens recorrem a esse manancial.

    Mas as notícias também não estão boas nessa área. Uma revisão de 55 pesquisas que avaliaram a qualidade da educação sexual nas escolas mostra que ela é reprovada pela maioria dos alunos.

    Foram avaliadas escolas da Austrália, Brasil, Canadá, EUA, Irã, Irlanda, Japão, Nova Zelândia, Reino Unido e Suécia, entre 1990 e 2015.

    Segundo os estudantes, o ensino sobre sexo é frequentemente "negativo, heterossexista, frio e ensinada por professores constrangidos e mal treinados".

    A conclusão dos autores deveria servir de alerta para governos e educadores: "O fracasso das escolas de reconhecer que a educação sexual é um assunto especial com desafios únicos está fazendo um grande desserviço para os jovens e desperdiçando uma oportunidade fundamental para salvaguardar e melhorar a saúde sexual".

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